Folha de S. Paulo


Feijão e Fofão

Ela é Hélia, ele é João.

Ela joga vôlei e ele tênis.

Uma atende pelo apelido de Fofão, o outro pelo de Feijão.

Ambos viveram emoções raras nos últimos dias, ele no domingo, em Buenos Aires, ela na terça-feira, em Osasco.

Ele, derrotado. Ela, vitoriosa, resultados mais frequentes nas carreiras dos dois.

Feijão, João Olavo de Souza, disputou durante 6 horas e 42 minutos o mais longo jogo da história em um dos mais antigos torneios de tênis, a Copa Davis, nascida em 1900.

Perdeu para o argentino Leonardo Mayer por 3 a 2, com parciais fabulosas de 7/6 (7-4), 7/6 (7-5), 5/7, 5/7 e 15/13.

Alguém dirá que são impróprios os termos derrotado e perdeu para quem passou a ocupar os lugares do americano John McEnroe e do sueco Mats Vilander, os até então protagonistas do recorde, com 20 minutos a menos, 33 anos atrás. Faz sentido.

Na titânica disputa em Buenos Aires, o brasileiro de 26 anos salvou dez vezes o ponto que decidiria a batalha, façanha sobre a qual também você já leu, mas que haverá de ser lembrada para sempre.

Como Fofão, Hélia Rogéria de Souza Pinto, que anteontem saiu do embate entre Osasco e Rio de Janeiro, o de maior rivalidade do vôlei feminino no Brasil, vitoriosa, pelo mesmo 3 a 2 do tênis.

O jogo foi em Osasco, com parciais de 25/20, 18/25, 23/25, 25/23 e 15/11.

Campeã olímpica em Pequim, bronze em Sydney e em Atlanta, hexacampeã do Grand Prix, duas vezes vice-campeã mundial, Fofão ouviu a torcida rival cantar parabéns e recebeu homenagens das atletas adversárias.

Simplesmente porque, com aposentadoria prevista para o fim desta temporada, a fantástica levantadora completava 45 anos de idade.

É tão complicado prever qual será o incerto futuro de Feijão num país que não aproveitou nem a Era Guga como deveria, como é fácil descrever o passado glorioso de Fofão neste Brasil que fez do vôlei seu segundo esporte.

Mas de uma coisa pode-se ter certeza: tanto o dia 8 de março quanto o dia 10 terão espaço para sempre nos esportes em que bola na rede não é gol, é ponto, e para o adversário.

BRINCADEIRA

A CBF quer que você acredite que funcionará a ideia dela de tirar três pontos do time que não pagar em dia durante o Brasileirão, desde que o jogador credor denuncie o clube devedor.

Ponha-se no lugar do jogador: você faz o que pode para vencer um jogo, o clube não paga no fim do mês, você o denuncia à CBF e ela toma os três pontos que você ganhou em campo.

Bonito, né?

Agora imagine que estes três pontos valeriam o título ou o rebaixamento"¦

Além do seu esforço jogado fora, pense como os torcedores do time punido o tratariam.

Ora, para a ideia funcionar a fiscalização precisa ser impessoal e independente, coisa que a CBF não quer fazer porque a proposta dela é para inglês ver.

Para inglês ver, bem entendido, porque o alemão já viu.

Menos mal que o governo brasileiro também já tenha visto e esteja disposto a acabar com a brincadeira.


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