Folha de S. Paulo


8 a 1

Gols contra começaram a ser marcados na reunião dos clubes na CBF quando foi aprovada a mentira do "fair play trabalhista", para inglês ver, e ressuscitada a ideia do mata-mata no Brasileirão, para alegria dos alemães.

O tal "fair play" copia o que vigora em São Paulo há três anos e só acionado uma vez, porque determina que é o jogador com salário atrasado quem tem de denunciar o clube. Um atleta do Paulista de Jundiaí fez isso e ficou sem poder entrar na cidade.

Mas alegre também ficou o obscuro ex-goleiro e presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais, Rinaldo Martorelli, que declarou: "Como a medida só vale para os atrasos durante o Paulista, às vezes não há mesmo dívidas nesse período."

Analise o que disse o jenial (com j mesmo!) pelego, diante da obviedade de que há muito mais clubes com salários atrasados do que apenas um: "às vezes", disse ele. Ora, "às vezes" é exceção, não regra. Se "às vezes" não há atrasos, nas vezes em que houve, mais que uma, enfatize-se, ninguém denunciou e ninguém foi punido.

Voltar ao mata-mata é outra mentira, em nome de uma emoção final que mata, aí sim, o planejamento, que aposta na sorte e no improviso e condena um monte de times a ficar sem jogar.

Diz um estudo da Universidade de Viena que uma pessoa normal mente 200 vezes por dia. Parece improvável, mas, no Brasil, é bem possível.

Basta ver quem saiu exultante da reunião: Eurico Miranda, que dispensa comentários.

Houve outros gols contra, como o do Promotor de Justiça Paulo Castilho que, em entrevista a Almir Leite, disse não ter aceito novo cargo no ministério do Esporte, o de Secretário Nacional do Futebol, porque "precisaria de respaldo, praticamente uma carta em branco. Não vi essa possibilidade". Disse ainda que não se sentiu fortalecido pelo ministro anterior.

Pois bem. Castilho, na verdade, não foi convidado para o cargo, mas para uma assessoria na Secretaria do Futebol e, em debates públicos, sempre foi ardoroso defensor de Aldo Rebelo, o ministro anterior.

O gol contra definitivo, que até dobraria o placar para 14 a 1, foi evitado na linha fatal, quando o governo federal conseguiu impedir que se votasse o Projeto de Lei para enganar trouxas e fazer a alegria dos espertos, engendrado por uma estranha tabelinha entre um petista e um tucano, o primeiro traidor do governo de seu partido e o segundo do Bom Senso FC.

Vicente Cândido e Otavio Leite se revezam no papel de Judas, embora, a favor do carioca do PSDB possa se dizer que é papel dele contrariar o governo, diferentemente da situação do petista paulista, sócio do futuro presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.

Claro que sempre se poderá dizer, também, que ficar contra o governo mesmo quando este acerta, como acerta na Medida Provisória que prepara (e que o ministério da Fazenda, por extrema cegueira, atrasa), é trair mais que o BSFC, é trair o Brasil.

Como faz o outro, candidamente.


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