Folha de S. Paulo


Torcida unida jamais...

A Medida Provisória que moderniza o futebol brasileiro está para sair do forno do grupo interministerial formado para redigi-la.

Tudo que é necessário para começar a reação depois do 7 a 1 está contido nela, não com o espírito apenas de punir o descalabro que é a gestão do esporte no Brasil, mas com a intenção de, enfim, extrair do futebol, como atividade econômica, os benefícios que, além de torná-lo novamente apaixonante para o torcedor, possam trazer os lucros que países como a Inglaterra, a Alemanha e a Espanha percebem não é de hoje.

Se há neste momento um projeto progressista em gestação no governo federal este é o do futebol, porque além de equacionar a angustiante dívida que assola a maioria dos clubes, impõe deveres que há décadas deveriam estar em vigor.

Há dificuldades e obstáculos sem fim para que venha à luz, a começar por incompreensões no ministério da Fazenda que ainda não se deu conta de que mais importante que o ressarcimento devido ao Estado serão os ganhos futuros caso a nova legislação seja implantada.

Na Itália, no decênio de 1970, quando seu futebol se transformou no mais atraente do planeta, o governo chegou ao absurdo de anistiar a dívida com uma das mãos para, com a outra, exigir as contrapartidas necessárias para impedir que novas dívidas impagáveis fossem criadas.

Quando se vê potências como Flamengo e Corinthians de pires na mão é inaceitável que os torcedores se unam mais para assediar jogadores por melhores resultados em vez de pressionarem cartolas pelo saneamento de suas gestões. Verdade que a direção rubro-negra está empenhada em fazer a lição de casa, enquanto a alvinegra prefere jogar nas costas da prefeitura paulistana responsabilidades que não são da municipalidade, mas do próprio clube, quebrado em plena disputa da Libertadores.

A Medida Provisória aponta para a modernidade e não deve ser vista como apenas do governo, porque suprapartidária em prol do país.

E ainda terá de quebrar lanças dentro do próprio Congresso Nacional, seja pela vaidade obtusa de alguns parlamentares, seja pela existência de uma nefasta bancada da bola, cúmplice dos interesses escusos da cartolagem da CBF, das federações estaduais e dos clubes, que sugam o sangue do futebol em benefício dos seus bolsos.

Há quem, compreensivelmente, defenda uma solução chilena, que veio com a intervenção do governo central depois que clubes populares como o Colo-Colo simplesmente foram à falência.

Não parece exequível, nem desejável, que o governo nomeie interventores para sanear clubes de futebol.

Ideal mesmo seria ver a massa de torcedores, leia-se a sociedade, mobilizada e unida para respaldar a iniciativa governamental, independentemente das opções eleitorais ou partidárias.

Mais uma vez o futuro do futebol está diante de uma encruzilhada: ou escolhe o futuro que permita reviver seu passado de glórias ou terá mais do mesmo.


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