Folha de S. Paulo


Tite modelo 2.015

A era Empatite parece ter acabado.

Por injusto que fosse o carimbo, assim como foram injustos os da era Dunga e da lei de Gérson, Tite, que ganhou tudo o que poderia ganhar à frente do Corinthians, carregava esse fardo: seus comandados empatavam demais ou, no máximo, ganhavam por diferenças mínimas.

Dunga também não mereceu o rótulo, porque não foi dele a responsabilidade pelo fiasco na Copa de 1990, o que provou categoricamente na seguinte, nos Estados Unidos.

Gérson, então, nem se fala. Pela infelicidade de uma frase numa campanha publicitária de cigarro, o fumante inveterado que sempre foi ficou marcado como se gostasse de levar vantagem em tudo, adepto da teoria do menor esforço. Ora, se o estereótipo ainda fosse relativo ao talento de fazer a bola correr mais que ele, vá lá. Mas como alguém que entre o esforço e a esperteza preferisse a segunda virou infâmia.

Mas voltemos a Tite, que se assina Adenor Tite.

Seu Corinthians de começo de temporada não tem se contentado em fazer um gol e segurar o resultado.

Nos jogos que valeram pontos, os que importam, nesta temporada de 2015, o Corinthians venceu os três do Paulistinha (se é que importam...) e dois dos três pela Libertadores, realmente significativos.

O primeiro pelo torneio continental por 4 a 0, com dez jogadores desde o primeiro tempo, quando o jogo contra o Once Caldas estava apenas 1 a 0 e o time perdeu Guerrero, seu artilheiro.

Em Manizales, o Alvinegro foi agressivo, não se limitou a buscar o 0 a 0, saiu na frente e só cedeu o empate quando os sinais do cansaço pelo desgaste da viagem e da altitude já se faziam presentes. Aí, a exemplo do que fizera no Dérbi contra o Palmeiras, também com um jogador a menos e na casa do rival, estacionar o ônibus corintiano na frente da grande área era obrigatório. Então, a antiga virtude de Tite apareceu claramente, como em 2012, que o diga o milionário Chelsea.

Veio o primeiro Majestoso numa Libertadores, cercado de expectativa até maior que o normal, porque ainda longe de ser decisivo.

O 1 a 0 aconteceu cedo, fruto de uma troca de bola magnífica entre Elias, Danilo e Jadson, jogada consciente, fruto da repetição que só se adquire com treinos, muitos treinos.

A vantagem poderia ter sido tratada como suficiente, dentro de casa, com apoio maciço da Fiel e numa fase em que o saldo de gols não tem o peso do mata-mata. Mas não.

O Corinthians quis mais, buscou mais.

Não foi bem-sucedido, é verdade, a não ser pela falha grosseira do apitador, mas, tanto quanto o erro dele, os de Danilo foram decisivos para que o placar se resumisse ao 2 a 0, algo que Muricy Ramalho, ao fugir do autoengano, reconheceu sem pestanejar.

Para sorte dos corintianos, a CBF não o quis e um novo Tite está de volta, até sem falar o "titês", embora mais teatral nas entrevistas, reflexivo diante de cada pergunta, repleto de pausas. Está podendo.


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