Folha de S. Paulo


Clássico destratado

Maior confissão de incompetência não poderia haver: não fosse a Justiça, Palmeiras e Corinthians jogariam hoje só para palmeirense ver.

Pedido do promotor Paulo Castilho, que há anos descuida da questão de violência de torcidas no Ministério Público paulista –e no do Esporte, à época em que assumiu a diretoria de Direitos do Torcedor da pasta durante o infeliz período de Aldo Rebelo.

Agora Castilho está cotado para assumir a Secretaria de Futebol do ministério do Esporte e, apóstolo da paz dos cemitérios, talvez sonhe com jogos sem torcida alguma e sem bola, para evitar que alguém se machuque numa dividida mais ríspida.

Em vez de tomar medidas que afastem a minoria bandida entre os torcedores uniformizados, Castilho propõe outras que proíbem a presença da maioria, os torcedores comuns.

E lança livro sobre o tema na sede da entidade que deveria fiscalizar, a Federação Paulista de Futebol, em relação promíscua com a cartolagem.

Castilho alega ter detectado, nas redes sociais, o agendamento de embate entre os vândalos alvinegros e alviverdes. Vândalos mais que conhecidos e que, frequentemente, se reúnem com as autoridades, que acabam por avalizá-los, embora se saiba da participação até do PCC nas chamadas torcidas organizadas.

É claro que, diante de um problema que sobrevive já há mais de duas décadas, medidas como a da exigência de torcida única encontra defensores e a direção do Palmeiras estava feliz por poder preservar seu estádio que, no entanto, pelo bem do futebol, tem de abrigar, como o corintiano abrigou no ano passado, as duas torcidas.

Entre outras coisas porque não havia nenhuma garantia de que os marginais dos dois lados deixariam de se encontrar antes ou depois do jogo –porque fica até mais fácil para os bandidos banidos de um jogo identificar todos os que se dirigirem ao campo do rival como inimigos.

De tudo, de mais um passo atrás dos cartolas e dos responsáveis pela insegurança dos torcedores comuns, fica a esperança de que, enfim em vias de ser desengavetado, o relatório Klein, pronto há uma década, seja posto em prática no país por iniciativa do governo federal.

Porque, por enquanto, Castilho que fez bem ao futebol brasileiro só o lendário goleiro do Fluminense e da seleção brasileira nos anos 50 e 60.

DERBINHO

Veio em boa hora a derrota do Palmeiras para a Ponte Preta, no primeiro jogo do time verde, literalmente, contra outro da primeira divisão nacional.

O Palmeiras está em construção e tem de ter os pés no chão.

Já o Corinthians, com a cabeça na lua da cidade colombiana de Manizales, que fica bem mais perto dela que de São Paulo, deve jogar com um time mesclado, embora, diante do desrespeito ao seu torcedor, devesse mesmo ir só com reservas, como resposta ao Ministério Público e à FPF.

O Paulistinha teria assim um inédito e mutilado derbinho à altura da competência dos que o diminuíram.


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