Folha de S. Paulo


Luz no fim do túnel

Barão de Itararé dizia que de onde nada se espera é que não sai nada.

Não que fosse esta a expectativa sobre o grupo de trabalho montado pelo governo federal para reformar o futebol, porque nascida do exemplar veto presidencial ao contrabando tentado pela CBF.

Recordemos: numa Medida Provisória, a 656, que trata de isenção de imposto a importação de aerogeradores, a bancada da bola quis aprovar o refinanciamento das dívidas dos clubes sem contrapartidas na gestão.

Dilma Rousseff vetou sabendo que o gesto valeria o apoio da cartolagem ao novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, como o futuro presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, explicitou.

Mas na derradeira reunião do grupo de trabalho, anteontem, ficou mais explícita ainda a vontade de fazer uma reforma para valer, mesmo com a consciência do governo de que a MP a ser encaminhada ao Congresso Nacional enfrentará dura batalha para virar lei.

O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi taxativo: "O veto da presidenta foi o sinal de que faremos, agora, tudo o que for possível".

O que significa apoiar as reivindicações do Bom Senso FC e ir além, com a criação de uma agência nacional reguladora para fiscalizar a administração do futebol. Não se trata, como já se quer envenenar, da criação de nenhuma "Futebrás", por ridículo, mas, sim, de acabar com a terra de ninguém que caracteriza nosso futebol.

A melhor surpresa da reunião ficou por conta do ministro do Esporte, George Hilton, alvo de justas críticas ao ser anunciado e objeto de desconfiança dos esportistas do país.

Era dele que não se podia esperar nada e foi dele a atitude inesperada.

Ao saber que estava engavetado em seu ministério o excelente relatório sobre violência de torcidas feito por Marco Aurélio Klein, que hoje cuida da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem no governo, Hilton manifestou interesse em saber mais.

O que poderia ter sido apenas para ficar bem na foto, como os políticos fazem corriqueiramente, transformou-se numa ordem para que Klein, já nesta segunda-feira, apresente a ele o trabalho engavetado por dois ex-ministros do Esporte do PCdoB, Orlando Silva e Aldo Rebelo, aos quais faltou coragem para enfrentar a questão.

O relatório de Klein, sem exagero, é a versão brasileira do famoso Relatório Taylor, até porque baseado nele, que significou o pontapé inicial para combater o descalabro do hooliganismo na Grã-Bretanha.

Se do grupo de trabalho resultar, além do imprescindível choque de gestão, o começo do fim da violência das torcidas, o governo fará mais que os sete gols alemães.

Em tempo: representaram a chamada sociedade civil, na reunião interministerial os jornalistas Paulo Calçade ("O Estado de S. Paulo"/ESPN), Erich Beting (Máquina do Esporte), este colunista, e Walter de Mattos Junior (Grupo "Lance!"), além de Marcelo Campos Pinto (Globo Esporte).

Vamos cobrar.


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