Folha de S. Paulo


Destruindo Gobbi

Mario Gobbi engordou, está evidentemente estressado e é o primeiro a dizer que precisa cuidar da saúde, debilitada por três anos de gestão.

O presidente do Corinthians no melhor ano (2012) da vida do clube está prestes a deixá-lo como se fosse um estorvo. E não são os que a ele se opõem que assim o tratam, ao contrário.

São os de seu grupo, a começar pelo antecessor Andres Sanchez.

Gobbi parece a ponto de explodir de tanto sapo que engole calado. Dá indiretas, se faz entender por bons entendedores da vida alvinegra, mas, literalmente, não cabe nas calças, prestes a extravasar.

A lealdade a seu grupo político no clube o mantém como apoiador da chapa da situação e assim, tudo indica, será até o fim, mesmo que ele, delegado de polícia, tenha de respaldar um candidato à vice-presidência tido como bicheiro.

No lusco-fusco da cabine indevassável é até possível que, como ato de solitária e silenciosa vingança, Gobbi vote na oposição.

Porque não se trata de estar sendo vítima do que se acusa nas campanhas de Dilma Rousseff e de Aécio Neves, a desconstrução de Marina Silva.

É pior, porque mais que desconstruir, se busca destruir a imagem de Gobbi nas alamedas do Parque São Jorge. E ele nem candidato é!

O futebol não poupa ninguém.

Nos últimos anos, vimos presidentes dos outros três grandes paulistas pagarem caro a aventura de presidir seus clubes de coração.

Luiz Gonzaga Belluzzo, no Palmeiras, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, no Santos, e Juvenal Juvêncio, no São Paulo, jogaram suas saúdes a escanteio e ainda sentiram o travo amargo das traições.

Gobbi vive o mesmo pesadelo e conta os dias até dar posse ao eleito no próximo dia 7, seja ele o companheiro Roberto de Andrade, seja o oposicionista Antonio Roque Citadini.

Sem poder dizer a Sanchez o que gostaria (e não pergunte por que não diz, pois este é um dos mistérios insondáveis do momento), Gobbi explode com quem não tem nada a ver com os bastidores alvinegros.

A malfadada estrutura do futebol brasileiro come seus agentes, com exceção daqueles que não têm um pingo de vergonha na cara e são tão gananciosos que a divisão do butim compensa. Outros se fazem de loucos.

Por generosidade, lealdade, reverência ou temor, Gobbi comportou-se como homem de grupo e, podendo implodi-lo, não o fez. Preferiu explodir.

É de se prever dias ainda difíceis para ele caso, por paradoxal que pareça, a situação prevaleça na eleição.

Caso ganhe a oposição, por mais contraditório ainda que possa parecer, seu futuro como cardeal corintiano deverá ser melhor.

O Corinthians tem uma dívida colossal –precisa pagar o estádio que muita gente achou que seria presente–,um passado recente vitorioso e uma promessa não cumprida de que seria em cinco anos um dos clubes mais ricos do mundo.

Potencial para tanto, de fato, tem.

Mas a vaidade e o lucro fácil fazem o clube secundário e Mario Gobbi descartável. Ninguém merece.


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