Folha de S. Paulo


Exportação de pé de obra

A começar por Everton Ribeiro, de malas prontas para o futebol árabe. O bicampeão Cruzeiro, que já perdeu Egídio, eleito como melhor lateral-esquerdo em 2014, para o futebol ucraniano, Ricardo Goulart, outro eleito no meio de campo, para o chinês, e Lucas Silva, escolhido como um dos melhores volantes, para o futebol espanhol, reluta, mas deve ceder porque Ribeiro, o craque do ano, quer sair.

De quebra, Diego Tardelli, eleito um dos melhores atacantes, deixa o Atlético-MG, rumo à China.

Minas Gerais, há dois anos o centro de excelência do futebol brasileiro, troca a produção de leite pela exportação de pé de obra.

Nem os formuladores da teoria da dependência foram capazes de imaginar que o periférico Brasil chegaria a tal ponto, porque, no caso de quatro dos cinco exportados, futebolisticamente falando, apenas a Espanha pode ser considerado um país central.

A exemplo das exportações de minério de ferro, petróleo, soja, carne, açúcar e café?, o jogador brasileiro virou, desde finais dos anos 80, uma commoditie como outra qualquer.

A diferença está em que, com um mínimo de organização e racionalidade, daria para não ter de ceder, ao menos, para a gelada Ucrânia, onde os brasileiros sofrem proporcionalmente ao que enriquecem, para não mencionar o medo que os conflitos recentes na região despertam em cada um deles.

Cabe esclarecer que o Campeonato Ucraniano consegue ter média de público inferior ao Brasileirão e seu PIB é 52º do mundo, 45 posições atrás do Brasil.

Que milagre fazem os ucranianos para tirar jogadores daqui?

A resposta honesta é... não sei, porque estou longe de conhecer os meandros do futebol de lá.

O que se sabe é que estamos há léguas de explorar a potencialidade do futebol nacional e que a globalização nos atropela a ponto de fazer com que percamos o trem da história.

Daí ser para ontem o choque de gestão necessário para trazer o torcedor de volta aos estádios e manter os jogadores por aqui, algo só possível se a economia do futebol nacional mudar.

Hoje mesmo, no Pacaembu, teremos a final da Copinha, o torneio das categorias de base que mais mobiliza a atenção da torcida, não por ser o mais forte tecnicamente, porque não é, mas apenas por ser disputado nas férias dos principais times do país.

E de que clima a decisão é precedida? Do clima da violência acontecida em Limeira.

Que pai levaria seus filhos ao estádio se, em vez do Botinha, o adversário do Corinthians fosse o Palmeiras?

Resolver a questão da violência se impõe, é óbvio, sem o que cada vez mais os estádios terão menos gente.

Mas, já que falamos da Ucrânia, a guerra entre torcidas lá é ainda pior, porque envolve a questão política entre nacionalistas e os pró-Rússia.

Basta dizer que, no ano passado, 40 pessoas morreram num conflito entre os torcedores do Metalist Kharkiv e os do Chornomorets Odessa.

Fica a pergunta: porque perdemos jogadores até para a Ucrânia?


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