Folha de S. Paulo


Água acima

País da piada pronta, em meio à falta d'água que assola boa parte do Brasil, e a mais um escândalo no vôlei, além da chuva alemã de gols no Mineirão, eis que vêm do precioso líquido nas piscinas e no oceano os maiores motivos de alegria para o esporte brasileiro na temporada que se encerra.

A começar pelos dois campeões nos 10 km da Copa do Mundo de Maratona Aquática, os baianos Ana Marcela Cunha e Alan do Carmo, eleitos os melhores nadadores do planeta na modalidade depois da última etapa disputada em Hong Kong, em outubro.

A continuar pelas sete medalhas de ouro no Mundial de piscina curta, em Doha, uma semana atrás, com a bela surpresa que Etiene Medeiros, Felipe França, Guilherme Guido e Marcos Macedo nos proporcionaram. Cesar Cielo não está citado porque nada que diga respeito a ele é surpreendente.

Para finalizar com o paulista Gabriel Medina, brilhando no Mundial de surfe nas ondas do Havaí.

É claro que você não foi para alto mar ver nossos maratonistas nem mesmo ficou na praia vendo o brilhante surfista. No máximo, curtiu pela TV os feitos da meninada na piscina curta, sempre lembrando que na olímpica, de 50m, são outros 500.

A natação está longe de ser preferência nacional, embora seja prática saudabilíssima para quem a pratica e emocionante para quem a assiste, como bem demonstrou Cielo em sua arrancada para o ouro no revezamento 4 estilos.

Agora só falta pegar toda esta água, dar uma boa lavada nas sujeiras sem graça alguma da Confederação Brasileira de Vôlei e aproveitar, mesmo que esteja imunda, para levar ribanceira abaixo os métodos nefastos e antiquados da CBF, porque um Neymar só não faz verão.

Só mesmo um verdadeiro tsunami poderá fazer nascer o esporte com a cara que sonhamos, sem nos iludir com os métodos da CBDA, a confederação dos esportes aquáticos, porque também nebulosos, sem renovação, comandada por um cartola que não fica corado quando é lembrado de que está no poder há 26 anos, embora fosse, antes de assumir a presidência, um crítico feroz das reeleições intermináveis.

Mas, enfim, nadar é preciso, viver não é preciso.

PAUSA

A coluna para para descansar. Volta em meados de janeiro, revigorada. Se 2014 foi esportivamente frustrante, 2015 promete.

Quem sabe se a faxina não começa para valer, de cima a baixo, para que possamos viver a Olimpíada do Rio em ambiente menos poluído?

Sim, tarefa de Sísifo, mas se está mais que na hora de desafiar o deus da corrupção, vai ver alguém consegue deixar o pesado fardo no cume da montanha.

E se você quer dar um bom presente neste fim de ano, dê o "O Prisioneiro", de Érico Veríssimo, obra-prima, de 1967, sobre a bestialidade da tortura, pela Companhia das Letras.

Ajudar a entender melhor o relatório da Comissão Nacional da Verdade, obra, como admitem seus bravos autores, em constante aperfeiçoamento, até que nunca mais o Brasil precise de investigação semelhante.

Boas Festas!


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