Folha de S. Paulo


A grande invasão

Faz quase 40 anos que a torcida corintiana invadiu o Rio e dividiu o Maracanã com os tricolores do Flu.

No próximo dia 5, a epopeia completará 38 anos.

Hoje, os dois times se enfrentarão pela 97ª vez em rigoroso empate de 38 vitórias para cada lado, com ligeira vantagem alvinegra nos gols marcados, 129 a 127 e considerável superioridade neste Campeonato Brasileiro, ao precisar de apenas um ponto para se classificar para disputar sua 12ª Libertadores, ao passo que os cariocas já adiaram o sonho da quarta participação deles para o ano que vem.

O que não significa vida tranquila para os paulistas hoje.

Em 1976, pelas semifinais do Brasileirão, deu empate em 1 a 1, gols de Pintinho e de Ruço, para empatar e levar à classificação corintiana nos pênaltis para a final e para a primeira das Libertadores disputadas pelo clube, ao lado de Inter, que viria o ser o campeão nacional, e Cruzeiro, campeão continental no ano anterior.

O jogo, sob vendaval, está registrado para sempre mais pelo que houve na arquibancada.

O tricolor Nelson Rodrigues assim descreveu o panorama no dia seguinte: "Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do Timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.

A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro Estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: – O Rio é uma cidade ocupada'. Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte".

Ziraldo, na primeira página do "Jornal do Brasil", então o mais importante do Rio, fez sua charge com uma criança chorando em seu cadeirão e chamando a mãe" "Manhêêê, caiu um corintiano na minha sopa!!!", dizia.

Segundo o "Almanaque do Timão" de Celso Unzelte, agora também num esperto aplicativo para telefones celulares e tabletes, 140.043 torcedores pagaram para ver o clássico, a metade, de acordo com quem testemunhou o fenômeno e com o presidente do Flu, Francisco Horta, que desafiou a Fiel e mandou metade da carga dos ingressos para São Paulo.

Horta, por sinal, acaba de ter sua biografia lançada pelo jornalista João Marcelo Garcez, "O engenheiro e a esfinge - Oitenta anos de Francisco Horta, o presidente eterno do Fluminense".

A Via Dutra, então, mudou de nome para "Avenida Corinthians" e há até quem sustente que aqueles 70 mil corintianos proporcionaram o maior deslocamento de massa em tempos de paz da história da humanidade.

Se não for verdade é bem provável e uma coisa é certa: dificilmente se verá alguma coisa parecida hoje em dia. Se bem que 15 mil fiéis, segundo os pessimistas, e 30 mil, para os otimistas, invadiram o Japão em 2012.


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