Folha de S. Paulo


Oh, Minas Gerais

Bicampeões brasileiros, campeões da Copa do Brasil e últimos patrícios campeões da Libertadores, os mineiros, não contentes em ter dois dos seus no segundo turno da eleição presidencial, dão as cartas também no futebol.

Poderia ser coincidência se as conquistas se resumissem a 2014, mas como vêm desde 2013, e se repetiram, é bom tentar entender por que os mineiros estão deixando paulistas, cariocas e gaúchos na poeira.

Os motivos que levaram o Cruzeiro ao sucesso já foram devidamente esquartejados, talvez faltando enfatizar a importância da volta do Mineirão. O tempo em que o estádio fechou para receber a Copa do Mundo cobrou um preço alto, porque, lembremos, também o Independência não foi entregue para substitui-lo como o previsto.

Uma análise de perto das gestões de Cruzeiro e Galo, no entanto, mostram diferenças significativas.

Enquanto o clube azul trabalhou sem alardes e construiu sua hegemonia tijolo por tijolo, com perfis baixos do presidente ao treinador, o alvinegro fez o inverso, quase sempre na base de apostar no tudo ou nada, exceção feita aos CTs que se equivalem.

Deu certo com Ronaldinho Gaúcho e até mesmo com Jô, mas deu errado com Vanderlei Luxemburgo, três casos em que o bom senso não autorizava as apostas.

Bom senso e o estilo do presidente do Galo são como água e azeite, embora até nisso a ciência já desafie o dito popular.

As escolhas dos técnicos dão boas pistas sobre as visões antagônicas nos dois grandes das Minas Gerais.

Identificado até a medula com o Galo, Marcelo Oliveira foi mandado embora por Alexandre Kalil, que não o via à altura dos sonhos atleticanos.

O Cruzeiro, sob pesadas críticas, se lixou para a identificação clubística e deu no que deu.

O passional, e excelente montador de times, Cuca, tinha tudo a ver com a massa atleticana, diferentemente de Luxemburgo e de Paulo Autuori, duas apostas frustradas.

Já Levir Culpi, há tanto tempo afastado do futebol brasileiro, caiu como uma luva na Cidade do Galo e, com as luvas, trocou os pneus do elenco em pleno curso, permitindo pelo menos a dúvida sobre quem fez trabalho melhor nesta temporada: ele, ao alterar a rota em pleno voo, ou Oliveira, que seguiu sua trajetória na ponta dos dedos?

Lembremos que Culpi abriu mão de Ronaldinho e de Jô, lançou garotos que deram certo, pôs Diego Tardelli nos eixos e, antes da decisão de ontem, venceu os três embates que o puseram diante do colega cruzeirense.

No distante olhar do café para o leite, parece que o modelo celeste tem mais chances de ser duradouro porque respaldado pela cabeça antes que pelo coração.

O Cruzeiro verá agora suas estrelas, ainda mais valorizadas, objetos de desejo da concorrência. O Galo mudará de comando na presidência.

Seja como for, ver o Mineirão como já se viu o Maracanã, o Morumbi, Pacaembu, Beira-Rio e Olímpico faz pensar.

Nele surgiu Tostão nos anos 60.

Como hoje será visto em 2070?


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