Folha de S. Paulo


Um grande campeão

Não é fácil explicar por que o Cruzeiro ganhou pela segunda vez seguida o Brasileirão. É facílimo!

Ganhou porque foi o time que venceu mais jogos entre os 20 participantes. Ganhou também porque foi um dos que menos perderam. Porque teve o melhor ataque e o melhor saldo de gols. Porque dois dos artilheiros do Brasileirão, Ricardo Goulart e Marcelo Moreno, jogam com a camisa azul do mesmo modo que um dos melhores passadores, Everton Ribeiro, também usa a mesma cor.

E ganhou porque manteve o técnico Marcelo Oliveira e a base campeã no ano passado.

Não dá para imaginar o que seriam enfrentamentos deste Cruzeiro com times como, por exemplo, os do Real Madrid e Bayern Munique.

Mas depois do que fez o time mineiro no segundo tempo contra o Grêmio na semana passada, na lotada arena gremista, da maneira como virou para cima da equipe gaúcha, apertando-a feito um torniquete implacável, uma certeza se pode ter: o Cruzeiro não seria goleado nem pelo esquadrão de Madri, nem pelo de Munique.

Mesmo submetido ao desgaste que o faz jogar, assim como os demais clubes de ponta do nosso futebol, cerca de 20 jogos a mais que o europeu de maior rodagem, o Cruzeiro soube como se manter na liderança sem sustos.

Ontem, no 2 a 1 contra o Goiás, fez a 73ª partida nesta temporada, sem perder o equilíbrio para tentar chegar, depois de amanhã, à tríplice coroa, como em 2003, caso vire também sobre o Galo, o que será quase sobre-humano, mas possível.

O bicampeonato cruzeirense, somado ao título do futebol mineiro desta Copa do Brasil, mais a conquista da Libertadores da América pelo Galo no ano passado, dá para Minas Gerais a liderança incontestável do futebol brasileiro pelo segundo ano consecutivo, situação já vivida pelo Rio Grande do Sul em outro momento e que faz bem à saúde do futebol nacional, acostumado à supremacia de paulistas e cariocas.

Se será duradoura, autossustentável, só o tempo dirá. Mas com o Mineirão reaberto, com a exploração até exagerada, porque excludente, do Independência, o sucesso do sócio-torcedor na Toca da Raposa e, felizmente, com a derrota do presidente Gilvan Tavares na eleição para deputado estadual, é bem capaz de que não haja desvio de rota e o gosto pela vitória mantenha o caminho do sucesso inalterado.

Ao futebol do eixo Rio-São Paulo restaram as tímidas comemorações pela medíocre volta do Vasco à Série A, além do terrível retorno de Eurico Miranda; o esforço pela classificação à Libertadores de São Paulo e Corinthians; o sofrimento do Palmeiras para evitar a terceira queda; a agonia sem fim do Botafogo e as pálidas campanhas do Santos e da dupla Fla-Flu, incompatíveis com a força de suas torcidas e com seus investimentos.

Não compare o Cruzeiro de hoje com os de Tostão e Dirceu Lopes; ou de Nelinho, Jairzinho e Joãozinho; ou o de Alex.

Basta que seja um trem bão demais, uai!


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