Folha de S. Paulo


2014 jamais acabará

Pense num time que tenha disputado 16 jogos em 2014, vencido 12, empatado dois e perdido apenas outros dois, depois de marcar 35 gols e sofrer 15.

Concorde que se trataria de um sucesso retumbante não fosse por um detalhe, como diria Carlos Alberto Parreira: dos 15 gols sofridos, dez foram em dois jogos, exatamente nas duas derrotas. Pior: ambas numa Copa do Mundo, aliás, assim como os dois empates. Pior ainda: uma dessas derrotas por 7 a 1!

É claro que você já sabia que o fim desta nem curta nem longa introdução terminaria assim.

Mas está aí apenas para lembrar que amistosos são amistosos, Copas do Mundo são Copas do Mundo.

Sem desmerecer as seis vitórias conquistadas pós-Copa, já sob nova (?) administração e que permitem a sensação (falsa) de que o ano acabou bem. Porque não acabou bem. Simplesmente porque não acabou. Nem acabará.

Estamos condenados a conviver com 2014 até o fim de nossos dias, porque a única chance de enterrá-lo é devolvendo aos alemães igual humilhação numa outra Copa do Mundo e essa possibilidade é idêntica à de encontrar o Uruguai outra vez numa final de Copa no Maracanã.

Baixemos nossa bolinha, portanto, e, com humildade, reconheçamos que dos 3 a 0 da Holanda para cá (ah, pois não, lembremos que ainda teve o passeio laranja no Mané Garrincha) as coisas melhoraram para os derrotados enquanto, curiosamente, pioraram para os vencedores.

Sim, os quartos colocados no Brasil tiveram um pós-Copa melhor que as três seleções que lhe ficaram à frente no torneio, uma delas, a da Argentina, digníssima vice-campeã, até vencida em confronto direto.

E por quê?

Talvez porque enquanto a CBF fez das tripas coração para tentar fazer esquecer o inesquecível, os alemães, argentinos e holandeses, sem maiores pressões, tenham dado os trâmites por findos no encerramento da Copa e começado a olhar para o futuro sem ansiedade, bem ao contrário dos cebefeanos que até buscaram uma "revanche" com os germânicos.

Agora sim, feita o longo prolegômeno, a Dunga o que é de Dunga.

Apesar de seu péssimo humor permanente, da carranca de dar medo em São Francisco, do discurso patrioteiro que trata a seleção como se fosse o exército, num déjà vu intolerável e intolerante, eis que o time dele recolocou as coisas em seus devidos lugares.

Para ganhar a próxima Copa?

É cedo para saber e a tensa corda permanentemente esticada pode levar ao desastre como aconteceu quando a Holanda empatou o jogo na África do Sul.

Uma das lições dadas pelos alemães, da Bahia ao Rio de Janeiro, foi a de que é possível ganhar o título de campeões da simpatia, da alegria e do futebol ao mesmo tempo, sem perder a concentração na hora de jogar.

Constatações puras e simples que não impedem outra, a de um time moderno e agradável de se ver como não se via desde a final da Copa das Confederações, na enganosa vitória sobre a já decadente Espanha.

Que assim perdure.


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