Folha de S. Paulo


Ecos de uma noite gloriosa

Talvez tenham sido os dois primeiros passos em frente para diminuir a distância entre o solitário gol brasileiro e os sete alemães naquela tarde de 8 de julho, no Mineirão, onde tudo acontece.
O que se viu na noite de 5 de novembro vale uma reflexão e um voto de confiança.

A começar pelo jogo de Belo Horizonte, onde o Galo cantou pela oitava vez para desespero das duas maiores torcidas do país. Lembremos, sem Guilherme, que dera o tom no primeiro dos 4 a 1, contra o Corinthians. Luan deu no segundo, contra o Flamengo.

O Galo cantou oito vezes e o raio caiu pela quarta vez na mesma capital brasileira do futebol, duas na Libertadores, contra Newell's Old Boys e Olimpia, outras duas na Copa do Brasil, contra Corinthians e Flamengo, sempre com desvantagem de dois gols nos jogos de ida.

O outro passo adiante foi dado na Vila Belmiro, mesmo num gramado encharcado, entre o Santos de Robinho, que ao perdê-lo viu a vaga ir para o brejo, e o Cruzeiro do heroico Willian.

Jogou-se futebol sem nhenhenhém, vertical.

Somadas as duas epopeias, nada menos que 11 gols, claro que alguns por falhas, sem as quais todos os jogos acabariam 0 a 0.

Mas com obras de arte como o terceiro gol santista, de pé em pé entre quatro atacantes, linha de passe, como os... alemães.

Ou como no primeiro gol praiano, em contra-ataque, também passando por quatro jogadores, sem egoísmo, futebol coletivo.

Além do mais, sem a interferência do apito.

Como nem tudo são flores, a quarta-feira que começou com novo recital de Lionel Messi, na Holanda, recordista de gols na Liga dos Campeões da Europa, terminou com drama, cenas de masoquismo explícito, o passo atrás!, em Guayaquil, onde o São Paulo padeceu novamente vítima do calendário que exige heróis e abdica de bons espetáculos, além de não permitir que se reclame de derrotas.

Enquanto teve pernas, o Tricolor ganhou o jogo. Ao perdê-las, só não perdeu também a vaga nas semifinais da Copa Sul-Americana porque as traves o salvaram duas vezes, Rogério Ceni outras três e a falta de pontaria do Emelec mais duas.

Dizem pelas ondas do rádio repórteres assustados que o São Paulo jogou sete vezes em 21 dias. Pois é muito pior que isso: jogou 26 vezes em 85 dias e jogará, no mínimo, 33 vezes em 110 dias, sempre um jogo a cada três dias.

A última semana que o time teve para treinar e descansar foi entre os dias 2 e 10 de agosto! E tome avião no lombo!

Se vencer hoje, em Salvador, na Bahia, o descansado Vitória, fica a sugestão para que se erga uma estátua para cada um dos jogadores tricolores autores da façanha.

Fosse com gatos, não duvide, a Associação Protetora dos Animais protestaria.

Fiquemos, contudo, otimistas que somos, com as semifinais da Copa do Brasil na retina.

E, principalmente, com a acolhida sensata, competente e progressista da Casa Civil do governo federal às reivindicações do Bom Senso F.C..

E pur si muove!


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