Folha de S. Paulo


Tudo pelo poder

Grandes clubes brasileiros como Palmeiras, Santos, Vasco e Corinthians estão em pleno processo eleitoral. O Grêmio concluiu o dele, com vitória da situação.

Dizer que não há paixão ou idealismo nas campanhas é exagero. Há quem, financeiramente independente, não queira se beneficiar das negociações de jogadores, contratos de patrocínios, obras ou relações espúrias com torcidas uniformizadas.

Há também os iludidos, bem intencionados a ponto de achar que poderão mudar o quadro de atraso em que vive o futebol brasileiro –com suas federações estaduais mantidas com as sobras da entidade mãe, madrasta.

Mas a maioria dos candidatos quer mesmo participar desta festa que levou, simbolicamente, ao 7 a 1.

É claro que a seleção alemã não é sete vezes melhor que a brasileira, embora a organização do futebol germânico seja mil vezes melhor.

Como é claro que aquele Barcelona que enfiou 4 a 0 no Santos era sim quatro vezes melhor, porque, diferentemente dos alemães, seus quatro gols foram saindo ao longo do jogo, espaçadamente, três no primeiro tempo, mais um no segundo, para coroar um planejamento, um método, uma filosofia.

Mesmo que, ou até por isso, o clube catalão tenha contratado Neymar antes da decisão, ruim para o Barça, péssimo para o jogador.

Em nossos clubes não há nada disso, é tudo da mão para a boca –ou para o bolso de cartolas e seus empresários amestrados para parecerem inimigos, mas todos cúmplices no mesmo barco, como o ex-jogador Luizão, agora empresário, disse com todas as letras no "Bola da Vez" da ESPN Brasil, coisa tão sabida que nem despertou maior curiosidade ou foi esmiuçada.

Tem sido frequente ver biografias honradas serem manchadas pela vida no futebol, sentenciadas pela terrível frase de Telê Santana: "O futebol não é coisa para gente séria."

Candidatos sérios procuram jornalistas ou para expor seus planos ou para ouvi-los sobre suas expectativas.

Por mais que não sejam ingênuos, alguns até com vivência no futebol, seus projetos parecem descolados da realidade, porque sem conexão até com o clube ao lado.

E, sozinho, todo e qualquer homem bom que se eleger sucumbirá inexoravelmente.

O quadro é este: no Vasco, há o risco da volta de Eurico Miranda; no Palmeiras o da reeleição de quem prometeu diminuir a dívida e gastar menos, embora a tenha aumentado e gastado mais, para deixar o time à beira de novo rebaixamento; no Santos tem tanto candidato que fica difícil saber quem é da situação ou da oposição; e, no Corinthians, por picuinhas não se aprovou a antecipação da eleição, para permitir que 2015 começasse sob nova direção.

Pior: se a chapa situacionista reúne figuras com passado deplorável, a da oposição traz assombrações como o famoso "171 do Vale do Paraíba", cujo apelido dispensa apresentação mais demorada.

A Kalunga não lhe daria uma loja para tocar, mas Paulo Garcia quer vê-lo gerenciando o estádio...


Endereço da página: