Folha de S. Paulo


Combinar com os russos

O Brasil não respeita as datas Fifa porque é um país de dimensão continental; a Rússia respeita

A Rússia tem o dobro do tamanho do Brasil e para o campeonato quando a seleção joga em datas Fifa.

Mas José Maria Marin acha que só o Brasil é grande e continua sem se mexer para resolver uma situação frequentemente prejudicial aos clubes, raramente,como agora, à seleção brasileira e, sempre, aos jogadores.

Esqueça que a Rússia sediará a próxima Copa do Mundo para tentar entrar, de uma vez por todas, no cenário do futebol internacional.

Pondere que o futebol russo não pode ser comparado ao brasileiro, embora compre nossos jogadores quando quer.

Lembre até que ao aparecer para o mundo, o futebol russo, vestindo a camisa vermelha da União Soviética, na Copa de 1958, foi desmoralizado por Mané Garrincha.

Mané, depois de receber minuciosas orientações de Vicente Feola, perguntou se o treinador havia "combinado com os russos". Sem obter resposta, resolveu fazer ao seu modo e de maneira tão espetacular que protagonizou os "mais fabulosos três minutos da história das Copas", segundo a Fifa.

(Talvez os seis minutos dos quatro gols alemães no Mineirão sejam ainda mais estupefacientes, mas, estes, tiveram diversos atores.)

Tudo considerado, ainda assim é necessário que Marin combine com os cartolas russos (atenção, Marin,a URSS acabou, não há mais sombra do comunismo por lá, graças ao bom Deus!) e aprenda como eles fazem num pais com cerca de 17 milhões de quilômetros quadrados para respeitar as datas Fifa.

É verdade que os 16 clubes do Russo não têm de fazer viagens tão longas como as entre Porto Alegre e Recife. Mas o Zenit de São Petersburgo, do brasileiro Hulk, atual líder, viaja 2.120km para enfrentar o sexto colocado, o Terek, de Grosny, apenas uma hora a mais de avião que a duração da viagem do Sport para enfrentar o Inter ou o Grêmio.

O Luch, de Vladivostok, mandava seus jogos, quando esteve na primeira divisão, a nada menos que 6.430km de Moscou...

Qual será o segredo russo?

Em 1958, às vésperas de Mané desmoralizar o terror criado em torno dos futebolistas da foice e do martelo –e que, além de tais ferramentas rudimentares, tinham o mau hábito de comer criancinhas–, os comunistas alardeavam ter a ciência da computação como aliada.

Cá entre nós, a resposta é bem mais simples: na Rússia, apesar de sua dimensão também continental, não se disputam estaduais, porque o presidente da federação nacional é eleito com os votos só dos clubes.

É isso que o gaguejante Marin tenta esconder dos incautos.

E é isso que ou o Galo ou Tardelli são prejudicados sempre que se convoca a seleção.

Em tempo: o alerta sobre o fim da URSS se fez necessário porque, segundo uma gravação disseminada pelas redes sociais, um eleitor tucano acusou o governo federal de "dar dinheiro para Cuba, Nicarágua e para a União Soviética(!)".

Marin não é exatamente um cidadão atualizado...


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