Folha de S. Paulo


Neymar e Ayo Dosumo

Sob o risco de parecer piegas, o gesto de Neymar ao pegar o pequeno sul-africano Ayo Dosumo no colo, abraçá-lo e impedir que ele fosse bem-sucedido ao invadir o gramado do estádio em Johannesburgo, valeu mais que mil propagandas para fazer a seleção brasileira ser querida pelo mundo afora.

O pequeno Ayo de carinha tão simpática, daqueles que dá vontade de a gente levá-lo para casa, não estava ali para tumultuar, mas apenas sôfrego por ser acarinhado por seu ídolo.

David Luiz logo entendeu do que se tratava e fez questão de registar num aparelho celular aquele momento para a posteridade. Não calculou nada, assim como não calcularam os demais jogadores que ergueram o garoto para que ele desfrutasse seus minutos de fama, afeto correspondido para sempre.

Impossível não lembrar de Pelé, incapaz de negar um gesto aos seus admiradores.

Impossível não lembrar de Muller, na Copa do Mundo de 1990, na Itália, recusando-se a dar um autógrafo para uma criança antes de entrar em sua reluzente Ferrari e partir roncando o motor após a eliminação da seleção brasileira diante da Argentina de Diego Maradona, em Turim.

Contrastes que marcam as diferenças entre quem nasceu para ser ídolo e os comuns, cujas máscaras revelam apenas a incompreensão sobre o que significa a admiração de uma criança apaixonada pelo futebol.

Neymar, David Luiz e seus companheiros que tiveram a felicidade de distinguir aquele momento sublime, não calcularam o quanto estavam somando para tornar simpática a imagem do time canarinho pelo mundo afora.

A África do Sul passou a ser brasileira ali e as imagens que correram o mundo certamente angariaram milhões de simpatizantes para a campanha brasileira na Copa do Mundo.

Não é pouco, com certeza.

Retribuir o carinho de um fã não tem preço e se o fator Fortaleza há de alimentar a trajetória brasileira nesta Copa, o acolhimento ao pequeno de sete anos recupera um sentimento que o negócio do futebol muita vezes colabora para ser esquecido.

O grande gol de Neymar em Johannesburgo não foi nenhum dos três que marcou na goleada brasileira.

O gol inesquecível dele tem as três letras de Ayo, como um raio de sensibilidade que andava esquecido.

O MAJESTOSO

O clássico deste domingo no Pacaembu teria muito mais majestade se Jadson e Pato pudessem jogar, cada um contra seus ex-clubes.

O primeiro ficará fora porque assim foi negociado em sua transferência.

O segundo porque assim determina o regulamento do pálido Paulistinha.

Os legalistas dirão que é isso mesmo.

Quem tem um mínimo de olhos para ver concordará que abrir uma exceção, com o aval de todos os participantes do campeonato, daria a este a graça que lhe falta.


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