Folha de S. Paulo


Quem manda na CBF

Quando Andres Sanchez manifestou seu desejo de ser candidato à presidência da CBF com o apoio de Lula, José Maria Marin foi curto e grosso: "Vou mostrar aos dois quem manda na CBF".

Ao que parece, com a desistência do ex-presidente do Corinthians e a indicação do presidente da Federação Gaúcha como candidato de oposição, Marin mostrou.

Apesar dos quatro governadores do PT, e mais sete entre PMDB e PROS da base do governo federal, Sanchez, que ainda pode vir a ser o vice, não conseguiu as necessárias oito assinaturas dos cartolas das federações.

Mesmo tendo o total apoio de Lula nos bastidores –não assumido publicamente, é verdade, mas de conhecimento até da grama que cresce nos estádios da Copa do Mundo.

A conclusão que se tira daí é óbvia: o poder dos cartolas é tal no Brasil que não há político, por mais força que tenha, capaz de influenciá-los.

Basta olhar para o tempo que os presidentes das federações estão no poder e constatar.

Entra presidente e sai presidente da República, entram governadores e saem governadores dos Estados, eis que os cartolas permanecem impávidos e colossais.

Para um cartola apear do poder é preciso ter polícia na porta da federação ou do clube, como se viu nas Federações Paulista e Mineira depois da CPI do Futebol, recentemente na CBF e como se viu no Flamengo e no Corinthians também neste século.

Em tese não é ruim que assim seja, que a política apite zero no futebol.

Só que no Brasil nem isso podemos festejar, porque as federações esportivas equivalem às capitanias hereditárias do período colonial, ou aos nossos cartórios, outra herança lusitana que atravessa já mais de 200 anos.

É de se saudar que haja oposição na CBF, caso realmente a candidatura do teimoso catarinense Francisco Novelletto Neto venha a vingar.

O problema está em que não se conhece seu programa e que nada indica que uma improvável vitória sua, sobre o paulista Marco Polo Del Nero, signifique mudança nos rumos de nosso futebol, como o reinado dele na federação estadual não significou no futebol local.

Por menos que os Havelange, Teixeira, Farah, Marin, Nero, acreditem, não há e nem nunca houve nada de pessoal contra eles, embora todos deem motivo.

O problema da superestrutura de nosso futebol, ou melhor, de nosso esporte, é mesmo estrutural e deve ser dos últimos a serem resolvidos no Brasil, sabe-se lá quando, tomara que ainda neste milênio...

Pense na depressão de Sanchez. Imagine o desapontamento de Lula. Calcule a máscara de Marin.

Será ele, filhote da ditadura, quem estará ao lado de Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo quando a seleção brasileira enfrentará a da Croácia, país onde nasceu Vladimir Herzog.


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