Folha de S. Paulo


É hora de impor

Botafogo e Fluminense restam como os únicos grandes clubes brasileiros que não ganharam o torneio continental. O que não os faz menores, registre-se, embora a conquista do Galo o faça ainda maior.

Dos dois cariocas não se pode exigir providências contra a Conmebol, porque sempre haverá quem os acuse de reclamar por faltar competência para vencer a Libertadores.

Não é o caso dos dez que a venceram. Principalmente dos dois mais recentes campeões.

O Corinthians ensaiou ir à luta, mas ficou no ensaio, no protesto formal, tão eficaz como blasfemar contra os fenômenos da natureza.

Sim, porque é da natureza do torneio a bagunça, a violência, os estádios e gramados infames, as arbitragens criminosas, a premiação indecorosa, os julgamentos políticos, os regulamentos retrógrados, tudo que fez do Galo a vítima da vez.

Imagine se o título tivesse escapado no imposto Mineirão porque um pênalti claro em Jô não foi observado, mesmo que o apitador tenha sido benevolente com a adiantada de Victor na primeira cobrança por ele defendida no desempate.

O mundo estaria vindo abaixo com Belo Horizonte como epicentro.

Daí ser obrigatório, sem mais evasivas, que os campeões continentais brasileiros imponham condições para disputar a próxima competição. Mesmo que tenha caído por terra a teoria da conspiração que garantia ser impossível um quarto título seguido de um time nacional.

Verdade que o exemplo deve partir daqui, com o compromisso de que nunca mais torcedores impedirão que rivais durmam na madrugada dos jogos, ou que sejam impedidos de treinar no campo da disputa, ou que sejam vítimas da truculência de seguranças ou da PM, ou que a imprensa visitante seja maltratada.

Porque estas são coisas nossas, assim como dos hermanos que acrescentam requintes como chuva de objetos e, até, tiros --para não mencionar as altitudes pornográficas e desleais, que tornam desiguais as condições de disputa e oferecem riscos à saúde, como acabou de demonstrar a morte de um jovem jogador peruano nas alturas de Cusco. Este, porém, é tema mais delicado e controverso, embora cristalino para a ciência do esporte.

Todos os demais itens são indiscutíveis e precisam ser resolvidos para que, um dia, a Liga dos Campeões da Europa não nos desperte tanta inveja.

Urge que deixemos de considerar que a Libertadores é coisa de machos mais do que de talentosos.

Deixar de disputá-la, como hipótese dos dez campeões, pode ser o caminho, o mesmo que levou as confederações sul-americana e europeia a programar um jogo único, no Japão, para escolher o campeão a partir de 1980, porque os europeus passaram a se recusar a serem agredidos neste lado do mundo.

É coisa séria e para os clubes, não para a CBF.


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