Não sei se é para comemorar ou para lamentar. Ver restaurantes se refugiando em shoppings dá uma certa tristeza -certamente a gastronomia é mais feliz com acesso ao ar livre, como parte da cidade.
Eu raramente visito centros comerciais, mas como bons restaurantes são sempre boa notícia, cada vez mais tenho ido também para cumprir minha missão de crítico gastronômico, pois cresce a oferta de casas interessantes dentro daqueles muros inóspitos.
Percebo uma inversão curiosa. No passado, parecia que os estabelecimentos eram uma comodidade adicional para quem fazia compras. Agora parece um pouco o contrário -bons restaurantes estão sendo instalados para atrair pessoas a shoppings cada vez mais vazios.
A tendência é visível. Esses dias foi inaugurado o Piselli Sud, no saguão de entrada do shopping Iguatemi. O restaurante de Juscelino Pereira não somente abriu uma filial, mas também lhe deu cara própria, com menu mais ao sul da Itália (massa fresca com mascarpone, lagostim e ervilhas, linguado com presunto San Daniele, sálvia e espaguete de legumes e paleta de cordeiro assada no vinho branco com menta e grão-de-bico).
O Iguatemi já havia levado algumas grifes, como Rodeio, Le Jazz, Ritz e, mais recentemente, o Junji do sushiman Jun Sakamoto. Agora inaugurou o Piselli no espaço que foi do Gero, do grupo Fasano, que por sua vez abriu o Parigi Bistrot no shopping Cidade Jardim, ao lado de grifes como Pobre Juan, Adega Santiago e, mais recentemente, Bráz Trattoria.
O outro Iguatemi, o JK, fez o mesmo movimento: chamou o Spot para fazer companhia ao TRE (filial do Tre Bicchieri) e ao Ici Brasserie. E assim as prisões de luxo em que se transformaram os shoppings, e que me parecem de futuro incerto, ao menos começam a ter refeitórios de primeira.
*(Publicado na edição de 04/10 da revista sãopaulo)