Folha de S. Paulo


Na veia - a engenharia a serviço das cidades

As carências das metrópoles exigem medidas que funcionem logo. De rápida eficácia. Um exemplo seria o uso da energia solar. Ela é desperdiçada todo dia, enquanto a conta de luz pesa no bolso da população mais vulnerável.

Aspectos práticos ajudam a transformar a vida dos cidadãos. Dar oportunidades de novos caminhos é um modo de tornar a cidade mais agradável.

É possível uma política pública que implante placas fotovoltaicas nas casas de periferia, permitindo que os cidadãos captem a energia necessária para o seu consumo. É uma forma imediata de aumentar a renda dessas pessoas sem subsídios permanentes. Só o investimento inicial de instalação.

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Casa com placas fotovoltaicas
Casa com placas fotovoltaicas

Existe uma cartilha da Aneel que explica como fazê-lo. É boa. Mas não é fácil para o cidadão aplicar, na prática, aquilo que está à disposição. As pessoas têm que correr para ganhar o dia e não conhecem certas operações técnicas.

Facilitar a vida das pessoas é um dever do poder público. Porém, isso, o processo, não pode ser feito de modo voluntário e desorganizado. A proposta é haver um centro de engenharia aplicada que cuide exclusivamente de problemas das cidades.

Foco total. Reunir, em local próximo a alguma universidade, recém-formados com talento para pesquisa, auxiliados por alunos-estagiários e especialistas, para descobrirem soluções para dificuldades práticas do dia a dia. E ajudarem diretamente as pessoas a implantar essas soluções, produzindo conhecimento, bem-estar e gerando royalties.

O uso da energia solar para substituir a energia elétrica, além da economia, pode gerar um excedente que o cidadão venderia ao sistema, obtendo alguma renda.

Embora já acessível, o desafio é fazer a implantação e, depois, a manutenção. Aí entra o centro de engenharia aplicada. Ele desenvolveria a tecnologia para ambos os processos se tornarem cada vez mais baratos.

Há inúmeros outros exemplos. O centro preconizado desenvolveria pesquisas para eliminar ou restringir enchentes em bairros conhecidos, como o Jardim Pantanal.

Facilitaria o processo o uso de aplicativos objetivos para o cotidiano. Hoje existem modelos para se chamar táxis que funcionam muito bem, mas não há informação, nos pontos de ônibus, sobre o tempo de espera de cada linha.

Há muita tecnologia produzida no mercado e pouca aplicação prática para as pessoas. É inexplicável que até hoje, com tanto conhecimento produzido, não haja, numa cidade como São Paulo, um centro tecnológico buscando permanentemente soluções.

Jogamos fora um saber existente.

O caminho prático é olhar para a pessoa desde o momento que acorda e sai de casa para o trabalho/estudo e verificar onde a coisa pega até a hora do retorno. Listar os problemas e mergulhar na busca de soluções.

Reprodução/Wikipedia/Favelas_na_cidade_de_São_Paulo
Todos esses telhados poderiam ser de energia solar
Todos esses telhados poderiam ser de energia solar

A cidade precisa de dois movimentos: um, o de se valorizar bens intangíveis, como andar por ela com segurança e satisfação; outro, o das soluções práticas, diretas na veia. O primeiro gera o prazer. O segundo mitiga as agruras.

Nenhuma cidade é perfeita. O segredo é saber conectá-los.

A engenharia não é só matemática. É magia; colocar em pé o que se precisa.

Em urbanismo, deve ser a arte de construir, todos os dias, a alegria de alguém.


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