Mudar o mundo é difícil. Mesmo que se queira caminhar na direção das coisas mais óbvias e consensualmente corretas.
A Revolução Francesa, que é um marco da Era Contemporânea (de 1789 até os dias de hoje) e encerra a Era Moderna (1453-1789) como um símbolo positivo de novos tempos, foi contestada como avanço.
Alexis de Tocqueville, no livro "O Antigo Regime e a Revolução", esmaece o brilho e a importância da Revolução Francesa.
Albert Hirschman, renomado cientista político e social, analisa isso com precisão em "A Retórica da Intransigência".
Segundo Tocqueville, a Revolução não representava uma ruptura tão grande com o Antigo Regime como se apresentara. Baseado em pesquisas, Tocqueville tentou demonstrar que as conquistas vinculadas à Revolução, como a centralização administrativa e a disseminação da agricultura em pequena escala, já existiam antes de sua eclosão.
Wikimedia Commons | ||
Queda da Bastilha durante a Revolução Francesa |
As Poor Laws inglesas, que suplementaram os salários baixos, ajudaram a assegurar a paz social e a manter a produção interna de alimentos durante as Guerras Napoleônicas, também foram atacadas.
Hirschman descreve que grandes nomes contestaram avanços sociais baseando-se em três teses reacionárias contra as mudanças que favoreciam os mais pobres.
Aquilo que parece claro e consensual recebe resistências inesperadas.
Toda essa sofisticada discussão, em alto nível, feita por Hirschman e dezenas de cientistas sociais, na luta por mudar o mundo e torná-lo mais justo, pode ser revista em dois temas simples em que volto a insistir: calçadas e bicicletas.
Simples assim.
Cerca de um terço da população faz suas viagens de deslocamento diário a pé. Não é por falta de dinheiro para a condução. É porque o trabalho, a escola, postos de saúde e outros objetivos estão relativamente próximos de casa, sendo mais eficaz fazer o trajeto a pé. O DNA Folha 2012 aponta que cerca de 26% da população da cidade levam até 10 minutos para chegar ao trabalho.
Para essas pessoas, o meio de mobilidade mais importante é a calçada. Bem cuidada. A elas se somam as que vão a pé de casa até o ponto de transporte coletivo mais próximo. 57 % da população levam, em média, até 30 minutos para chegar ao trabalho (DNA Folha 2012). Essas, se pudessem se deslocar por bicicletas em ciclovias ou ciclofaixas seguras, mudariam suas vidas. O trajeto não só ficaria mais rápido, como mais agradável.
Divulgação /Prefeitura de São José dos Campos | ||
Calçada bem cuidada |
Depende só de fazermos muitas ciclovias, principalmente na periferia. É o caso do Jardim Helena, que não tem ciclovia e 9% dos moradores utilizam a bicicleta como meio de transporte.
Isso não acontece só em São Paulo. Ocorre em todas as metrópoles brasileiras e grande parte do mundo. Principalmente em metrópoles pobres da Ásia e África.
Por que não se aplica a solução? Ela vai "mudar o mundo", no sentido da mobilidade, para pessoas carentes. Pode ser pouco para quem enxerga o mundo como um todo. É muito para o dia a dia de bilhões.
Mudar o mundo não é fácil. Até marcos consagrados, como a Revolução Francesa, encontram contestações. Até coisas simples, como calçadas e bicicletas, em toda parte do Planeta, não recebem o empurrão necessário.
Em 1849, o jornalista francês Alphonse Karr, criou a expressão: "plus ça change, plus c´est la même chose"(quanto mais se muda, mais continua mesma coisa - em tradução livre). A ideia conformista, que resiste ao longo do tempo, é que não adianta tentar.
Não é fácil mudar. Mas temos que continuar tentando.
zona norte | zona sul | centro | zona leste | zona oeste | |
---|---|---|---|---|---|
Até 10 minutos | 25% | 21% | 31% | 26% | 27% |
De 10 a 20 minutos | 19% | 17% | 25% | 14% | 19% |
De 20 a 30 minutos | 13% | 12% | 13% | 10% | 13% |
Fonte: DNA Folha 2012 |