Folha de S. Paulo


Joana Couto: Mulheres uni-vos (#AgoraÉQueSãoElas)

A coluna abre espaço para Joana Couto comentar a campanha #AgoraÉQueSãoElas:

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A luta contra o machismo e seu grito diário está reverberando. Não estamos mais caladas, estamos atentas, e vamos denunciar. Cada dia mais e mais mulheres juntam-se ao movimento de luta por igualdade.

Estamos nos expondo, sem vergonha dessa vez: #meuprimeiroassedio mostrou e colocou em pauta que toda mulher já sofreu assédio começando pela infância, assim como a Valentina do "MasterChef Junior" que desencadeou uma avalanche de denuncias: estamos jogando tudo no ventilador e daqui pra frente vai ser assim.

Quem tem que se envergonhar é o homem: e há aqueles que assumem mesmo a culpa com #meaculpa: algumas muitas não toleram a voz do homem sobre o assunto, afinal "vai assumir a culpa na delegacia". Mas creio esse ser um grande passo: uma reflexão social, feita por nós mas que todos precisam refletir e ter voz!

O nome do movimento indica quem são as protagonistas. Quem realmente sofre e luta somos nós, mulheres, mas a luta contra o machismo é uma luta de todos.

Afinal todos sofrem com a opressão, e cada um sabe o peso da opressão que vive.

O marketing se apropria do assunto pra falar na língua de quem entende e pode comprar. As Barbies já estão sendo vendidas com mensagens feministas. A discussão de gênero –sobre o que é imposto e definido como "de menino e de menina"– e se isso realmente é valido, com a pergunta: "quando seremos livres pra fazermos nossas próprias escolhas?" já está sendo exibido nos comercias de TV para campanha "He For She" da ONU Mulheres no canal GNT. E Clarice Falcão lançou o clipe Survivor em homenagem as mulheres sendo assim acusada de feminista branca.

Menos segregação de gênero, menos segregação de raça, de padrão de corpo, social... Menos balança pra medir quem é que sofre pior e mais união, mais luta pela liberdade de todos.

Fico chocada quando me deparo com esses discursos feministas que defendem uma "essência" de base biológica na natureza feminina, ou do "ser mulher", não reconhecendo o direito a mulheres trans.

Segmentando, dividindo em secretarias, departamentos e sub-departamentos: tem o movimento feminista negro, o movimento feminista branco, o movimento transfeminista. Essa desunião no meu posto de vista desfaz as conquistas mais fundamentais do direito à cidadania de segmentos oprimidos da sociedade. Enquanto houver essa desunião orquestrada por uma minoria haverá uma hierarquização elitista que não produzirá as conquistas para um bem comum.

Temos que cuidar uma das outras!

Temos que parar de criticar o trabalho de quem vai lá e faz, dando força e visibilidade, só porque é uma mulher branca. Ela tem privilégios? Tem, mas que bom que tá usando do seu privilégio inclusive midiático pra tratar de pontos importantes.

Vamos todas colocar Eduardo Cunhas e Bolsonaros pra correr! E vão correr chorando porque vai ter pílula do dia seguinte, vai ter aborto, vai ter trans escrevendo para o jornal, trabalhando no que quer e constituindo família caso queira.

E vai ter porque estamos aqui na linha de frente pra lutar por isso. E eu vou lutar de batom vermelho. Se é preciso ter coragem para ser mulher nesse mundo, imagina para tornar-se uma. Fácil não é, mas a união das manas será força total.


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