Folha de S. Paulo


Como viajar em 2015

Já estamos em frangalhos e o ano mal começa. Quando tudo nos empurra para fora –imagino que você também pense em escapar, ao menos por uma temporada–, nosso dinheiro se desvaloriza a galope. O mundo fica maior e nós, cada vez mais isolados no seu extremo-ocidente. Roteiros propostos por suplementos como este transformam-se em peças de luxo.

Caso você não seja uma daquelas pessoas que passam o ano inteiro obedecendo a horários e ordens do patrão e, nas férias, gostam de fazer o mesmo sob o comando de um guia num pacote turístico, nada disso é motivo para deixar de viajar.

Hospedagem - O leitor não precisa acampar ou dormir num hostel. Há serviços grátis relativamente seguros e muito populares como o Couchsurfing (couchsurfing.com), que ainda contam com a vantagem de oferecer uma experiência imersiva. Afinal, você vai dormir dentro da casa de um local, cujas informações sobre a cidade fogem da dica óbvia. A sugestão é explorar os perfis, conversar com os anfitriões antes –e oferecer o quarto/sofá da sua casa em troca. Amizades surgem assim. Alergias e bed bugs também, então é bom analisar com cuidado a casa onde você vai parar.

Para sociofóbicos intratáveis como eu, há vários sites de "home swapping", em que você oferece sua casa em troca de outra no exterior por um período combinado. A privacidade é garantida, mas talvez você tenha que regar plantas ou alimentar um cachorro. E, em casa, trancar a gaveta com seus brinquedos sexuais. Normalmente cobra-se uma taxa anual e é bom programar a viagem com antecedência. Alguns desses serviços: mindmyhouse.com, trocacasa.com, intervac-homeex change.com, housecarers.com etc.

Para voluntários com disposição física e mental para trabalhar du- ro em troca de comida e hospeda- gem: worldwidehelpers.org, wwoof.net, workaway.info e muitos, muitos outros endereços que nunca visitaremos.

Caso nada disso funcione, a boa pode ser perguntar em estações de bombeiros ou agências da Cruz Vermelha onde é o abrigo mais próximo. Há, ainda, quem se dedique a seduzir estranhos num bar em troca de cama até a manhã seguinte –é mais fácil do que parece. Afinal, de um jeito ou de outro, você sempre vai arrumar um lugar para dormir.

Comida - Se no sudeste asiático, na África ou em certas cidades da América Latina um prato de comida ainda custa o preço do cafezinho em Guarulhos, em tempos de real depreciado a realidade pode ser bastante diferente na Europa e nos Estados Unidos.

Por sorte, há cada vez mais restaurantes sem preço fixo espalhados pelo mundo, do tipo onde você come e paga o quanto quiser.

Sugiro dois que conheço: em Viena, o Der Wiener Deewan (Liechtensteinstrasse 10) oferece comida paquistanesa com inter- net grátis e lindas estudantes compartilhando a mesa. Em Amster- dã, uma opção que em São Paulo custaria uma conta de luz no verão é o De Culinaire Werkplaats (Fannius scholtenstraat 10), com decoração elegante e cozinha experimental –o cardápio só informa os ingredientes, não exatamente o que farão com eles. Esteja certo: vale mais do que você pagará.

Caso você goste de cozinhar, há sempre a possibilidade de recolher restos frescos em restaurantes e supermercados. Perca horas explorando dicas de todo o mundo e faça seu roteiro em trashwiki.org/en/Main_Page. Se a gourmetização abraçou até a mendicância, aproveite antes que chegue ao turismo grátis.


Endereço da página: