Folha de S. Paulo


Não basta apenas trocar o nome

Pedro Ladeira/Folhapress
Sessão no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF) referente a votação da PEC da reforma política
O plenário da Câmara dos Deputados, em sessão da reforma política

A renovação na política é o desejo de boa parte da população, nada mais natural após tantas denúncias envolvendo os políticos. Algumas pesquisas recentes demonstram esta tendência. Conforme levantamento realizado pela Ideia Big Data, 59% dos entrevistados não votariam em candidatos do PT, PSDB e PMDB para a Presidência da República e 79% afirmam que gostariam de ver cidadãos comuns —de fora da política— como candidatos em 2018.

Neste cenário, a principal medida entre os partidos que querem se apresentar como "renovados" tem sido a troca do nome da legenda. O termo partido é excluído e substituído por alguma expressão, que normalmente denomina uma ação, como por exemplo: Avante, Podemos e Mude.

Entretanto, uma mudança séria e verdadeira pressupõe algo além de uma simples alteração de nomenclatura. As práticas, rotinas, processos e incentivos precisam ser alterados.

Caso os partidos queiram, de fato, se renovar, tendo como objetivo se aproximar e representar o
eleitor e não apenas confundi-lo, deveriam seguir outro roteiro:

1- Definam os seus posicionamentos baseados em princípios e valores claros, e não na conveniência dos caciques ou das negociações privadas.

2- Privilegiem a renovação nos seus quadros. Ela é saudável e consolida a democracia.

3- Escolham melhor os seus candidatos. Substituam os puxadores de votos por pessoas preparadas, honestas e comprometidas com os valores do partido.

4- Exijam dos representantes eleitos fidelidade com os ideais do partido, afinal eles representam uma instituição e devem atuar de forma coerente.

5- Digam a verdade, especialmente quando tiverem cometido algum erro. O cidadão está cada vez mais bem informado e poderá perdoar algumas falhas mas dificilmente irá admitir ser enganado.

6- E por último e provavelmente o mais importante: não utilizem recursos públicos. Não é razoável demandar da população que tem péssimos serviços públicos, apesar de pagar altos impostos, que financie, de forma compulsória, os partidos políticos. A necessidade constante da busca de recursos para a sua manutenção é o único e mais eficaz mecanismo para validar constantemente a atuação do partido. Como acontece em nosso dia a dia, se o produto entregue não estiver agradando ao consumidor, a instituição não receberá recursos, irá à falência e o cidadão buscará uma melhor alternativa. Esse é o processo mais justo e coerente para a depuração do quadro partidário atual e que poderá nos levar à tão desejada representatividade política.

Certamente para um partido já existente as mudanças aqui propostas não são fáceis, dão trabalho, mas são necessárias e darão credibilidade a quem as adotar. É sempre difícil abrir mão de privilégios e deixar os atalhos de lado, mas somente assim se constrói algo sólido e duradouro.

Seria muito bom que os partidos atuais, pelo menos os que pretendem genuinamente se renovar, refletissem sobre o assunto.


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