Folha de S. Paulo


O aprendizado político fora do período eleitoral

Palácio de Miraflores/Reuters
Venezuela's President Nicolas Maduro (L) speaks during a meeting with members of the Defense Council of the Nation in Caracas, Venezuela July 18, 2017. Miraflores Palace/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS PICTURE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. ORG XMIT: VEN102
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa a membros do Conselho de Defesa do país

Infelizmente as campanhas eleitorais, os debates e as propagandas políticas tornaram-se, ao longo do tempo, peças de ficção e de marketing. O discurso dos candidatos é, normalmente, definido por pesquisas e por publicitários, e é dentro desta lógica que são apresentadas as ideias e propostas. Nesse contexto, é natural que, muitas vezes, desinformado e iludido, o eleitor faça escolhas que trarão resultados contrários ao que ele pretendia.

A crise —política e econômica— em curso nos mostrou como as opções que fazemos nas urnas são determinantes da qualidade de vida que teremos e da nação que deixaremos para as próximas gerações.

Nesse sentido, é muito proveitoso acompanharmos, desde já, eventos, atitudes e posturas que —sem o filtro de um trabalho de marketing e fora do período eleitoral— nos ajudem a entender os reais pensamentos e propósitos dos partidos e políticos que irão disputar o nosso voto.

O apoio anunciado na semana passada pelo PT e pelo PC do B ao governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, é um ótimo exemplo do aprendizado prévio que podemos ter sobre a filosofia, os princípios e, consequentemente, os objetivos desses dois partidos.

O endosso ao regime chavista, manifestado pelos dois partidos brasileiros, demonstra uma crença genuína, compartilhada por ambos, de aprovarão essa forma de governo e aos atos praticados pelo atual presidente venezuelano.

E, afinal, que governo é esse e como ele funciona?

A Venezuela vive hoje um caos politico, econômico e social. Mais de 100 pessoas foram mortas em manifestações contra o Governo nos últimos quatro meses. Opositores ao governo não raro são aprisionados e têm seus direitos políticos cassados. O país possui hoje um dos piores índices de criminalidade do mundo.

As filas para aquisição de produtos básicos são recorrentes. Levantamento feito pela revista inglesa "The Economist" relatou que três quartos dos venezuelanos perderam, em média, 8,7 quilos por pessoa por causa da escassez de comida.

No último ranking de liberdade econômica, elaborada pela Heritage Foundation, a Venezuela aparece na penúltima posição entre 180 países, à frente apenas da Coreia do Norte e logo atrás de Cuba. Esta classificação é importante pois há uma correlação direta entre o nível de liberdade econômica de um país e a sua renda per capita.

A perseguição permanente a empresários e a imprensa livre têm sido também marcas desse governo.

Esse foi o resultado do regime que está no poder há cerca de 18 anos e que pretende agora implementar uma mudança na Constituição, rejeitada pela maioria dos venezuelanos, para concentrar ainda mais poder nas mãos do presidente e perpetuá-lo no cargo.

A questão que deve ficar, portanto, para a nossa reflexão é: são estas práticas, que produziram esse resultado com um grande sofrimento para a população, que pretendemos seguir? Certamente não.

Ao endossar esse projeto de poder e esta forma de gestão o PT e o PC do B nos fornecem uma prova inequívoca de como pensam e da consequência nefasta que suas ações podem ter para todos os brasileiros.

O conhecimento da história recente da Venezuela é um alerta para evitarmos decisões políticas erradas e que podem colocar o Brasil, de volta, nesse mesmo caminho.


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