Folha de S. Paulo


Precisamos aproveitar a fissura no perverso modelo político atual

"O Estado é nosso maior inimigo": essa foi uma das principais constatações dos entrevistados na periferia de São Paulo, em pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo e divulgada no início deste ano.

A afirmação reflete o momento atual do país. Entretanto, o "Estado" não tem vida própria e não pode ser considerado culpado. Os verdadeiros inimigos são algumas lideranças políticas que desvirtuaram o papel do Estado.

Ele deixou de ser um prestador de serviços básicos (saúde, segurança e educação) e arbitrador de conflitos para se transformar, essencialmente, em um instrumento para acúmulo de poder e privilégios pela classe política.

Alan Marques - 13.dez.2016/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 13.12.2016. Sessão do Senado Federal para votar o segundo turno da PEC 55/ 2016, que trata do teto dos gastos públicos. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
Plenário do Senado durante sessão

As práticas para atingir esse objetivo incluíram: expansão da área de atuação do Estado, aumento da carga tributária, da burocracia e da interferência na vida das pessoas.

O resultado é o que temos hoje: um Estado ineficiente, péssimo prestador de serviços, intervencionista, que propicia a corrupção, dificulta o empreendedorismo e a geração de empregos e, assim, prejudica a qualidade de vida das pessoas e as suas liberdades individuais.

Se por um lado os acontecimentos recentes como a atuação da força-tarefa da Lava Jato e a indignação da população criaram um ambiente propício para a renovação, acenderam também uma luz de alerta para a classe política atual que se beneficia desse modelo.

O que temos hoje, e que continuará até 2018, é uma queda de braço entre os brasileiros –indignados e maltratados pelo Estado– e vários representantes políticos que buscam manter a todo custo o status quo. E pior: tentam introduzir mecanismos para se proteger ainda mais.

Isso é muito preocupante, pois enfrentamos como inimigo quem deveria nos representar. Temos uma classe política que, majoritariamente, luta pela sobrevivência, com imensa determinação para continuar no poder e conta com uma arma poderosa que é a possibilidade de legislar em causa própria.

A maioria dos partidos se agrupou em torno de um roteiro comum: limpar o passado, proteger as lideranças, reforçar a estrutura atual, dificultar novos entrantes e impedir questionamentos.

A aliança entre partidos dito opositores, o esforço para anistiar o caixa 2, a tentativa de enquadrar outros poderes com legislações específicas (como a lei de abuso de autoridade), decisões questionáveis em conselhos de ética e, recentemente, a proposta de utilizar mais R$ 3,5 bilhões de recursos do pagador de impostos para financiar campanhas eleitorais são exemplos da reação da classe política.

Estamos em um momento decisivo: ou aproveitamos a fissura nesse modelo perverso e mudamos essa realidade ou condenamos a nossa e as próximas gerações a um longo período sem crescimento, com alto desemprego e com retrocessos nas áreas sociais.

Prioritariamente temos duas tarefas: nos mobilizar contra tentativas que visam impedir a renovação e ocupar espaço na política. Candidate-se.


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