Folha de S. Paulo


Humanos

Desde a Segunda Guerra Mundial, com o morticínio de europeus e as bombas atômicas norte-americanas, só as mentes aprisionadas na ignorância podem surpreender-se com a ferocidade humana.

Os antigos gregos, ao tempo mesmo em que fundavam com genialidade a filosofia, faziam guerras entre si e com vizinhos. Os romanos, enquanto elaboravam o Direito e davam o nome de bárbaros aos alheios à evolução latina, submetiam imensidões e povos às suas armas. Registro ainda anterior, o Velho Testamento, nascente religiosa, é uma crônica das guerras feitas pelos hebreus aos povos da região. Estavam legados aos milênios do Ocidente os pilares da sua história: a cultura, a religião e os extermínios humanos.

O Ocidente nunca esteve sem guerra. Mudam as formas. Muçulmanos ensandecidos invertem hoje as Cruzadas medievais dos cristãos sanguinários. Paris: a matança foi de inocentes. Todas as guerras são para dominar ou exterminar os inocentes. É tão triste –e tão sem remédio.

UMA FONTE

A resistência da corrupção é muito mais forte do que o ataque que lhe é feito. E a primeira fortaleza da resistência está no Congresso, onde se formam diferentes maiorias, a depender da ocasião, que usam o poder de legislar para criar, proteger e restabelecer vias de acesso à corrupção. Assim se explica que, tão logo derrubadas pelo Supremo Tribunal Federal, na quinta (12), as chamadas doações ocultas para candidatos eleitorais, parlamentares começaram a conversar sobre o seu restabelecimento. Entre eles, Eduardo Cunha.

Aprovadas entre as alterações da legislação eleitoral feitas pelo Congresso, as "doações ocultas" foram vistas pela OAB como inconstitucionais, por impedirem que os eleitores saibam quem financia os seus candidatos. A identidade do doador desapareceria com a entrega do dinheiro ao partido, que o repassaria em seu nome ao candidato. O Supremo acatou a ação da OAB, mas é uma decisão sua que dá oportunidade ao restabelecimento das "doações ocultas". Por meio de emenda ao projeto, em trânsito no Congresso, que pretende restabelecer as doações de empresas a candidatos já nas eleições de 2016.

É notório o uso de campanhas eleitorais para enriquecimento pessoal, dada a impossibilidade de controle real das doações recebidas pelos candidatos, muitas vezes extorquidas. Depois de eleições, inúmeros patrimônios de candidatos crescem, de repente, com novas residências, sítios, fazendas, e isso não é segredo, nem haveria como ser. Além de crime eleitoral, é crime comum. Mas nunca se soube de quem coletasse de doações de campanha, desviasse o dinheiro, e por isso fosse preso e condenado por estelionato.

É explicável que tantos parlamentares, de quase todos os partidos, não se conformem com a proibição às gordas doações de empresas e, agora, também às doações ocultas.

DE PALAVRA

O deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara, fez o seu espetáculo de rompimento com o apoio a Eduardo Cunha. O jornalista Ilimar Franco ("O Globo") desmascarou-o. Contou, com precisão até de horários, que na terça-feira Carlos Sampaio foi cedo à casa de Eduardo Cunha, acompanhado de Mendonça Filho, do DEM, e Paulinho da Força, do Solidariedade, e os três garantiram o apoio da oposição à defesa de Cunha em troca do impeachment de Dilma. No começo da noite, "dobrado pela bancada", Carlos Sampaio "procurou microfones, câmeras e luzes" e "anunciou o rompimento".

Eduardo Cunha, mais uma vez, depois de "mais de cinco encontros secretos" com aqueles oposicionistas nos últimos 30 dias, disse-lhes que responderia até quinta-feira. O negócio imoral ficou sem resposta.


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