Folha de S. Paulo


Novos jatos

A semana promete jatos de noticiário como se fosse feita só de sextas-feiras, data semanal preferida na Lava Jato para produzir emoções fartas e, em termos pessoais, dar o primeiro fim de semana especial a cada leva dos seus novos hóspedes.

Além das esperáveis mas não imagináveis decorrências das prisões de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, presidentes das gigantes Odebrecht e Andrade Gutierrez, começa amanhã a tomada de depoimentos individualizados para os processos de políticos citados na Lava Jato.

Os depoentes que envolveram políticos o fizeram em relatos amplos. O ministro Teori Zavascki, do Supremo, recolheu aí as citações a serem transformadas em inquéritos particularizados, sobre cada um dos citados. Os novos depoimentos dos acusadores estão nesses inquéritos.

Os presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, são, por seus cargos, os investigados mais relevantes. Mas é por suas maneiras pessoais que se distinguem dos outros envolvidos. Ambos já sobrecarregados de problemas judiciais, não disfarçaram a intenção de retaliações agudas se levadas adiante as acusações. Zavascki e o juiz Sergio Moro levaram. Acusadores e acusados fazem a parte prometida do festival.

A parte não prometida fica ao encargo, sobretudo, de Marcelo Odebrecht e sua surpreendente prisão. As tão repetidas afirmações de que a empresa e ele mesmo não tinham comprometimentos obscuros, de interesse da Lava Jato, sugeriam no mínimo precauções eficazes. Se lá atrás, fazendo jogo limpo, o que o histórico do setor nega, ou dando à corrupção novidades de segurança absoluta. Se mais para cá, valendo-se dos 15 meses intocados na Lava Jato para limpar as impressões digitais deixadas na Petrobras e adjacências.

Como diz o recém-empossado ministro do Supremo, Luiz Edson Fachin, "delação premiada é um indício e precisa ser corroborada por prova idônea". Ou Sergio Moro tem melhores informações do que liberou sobre Marcelo Odebrecht e a empresa, ou esses dois acusados vão dar um show ainda não representado por outro acusado na Lava Jato.

IDA E VOLTA

Durante a ditadura, quisemos muito que estrangeiros viessem verificar as práticas da repressão. Contrários à ingerência estrangeira por princípio, ansiávamos por aquela ingerência, sim: a causa era mais forte do que o princípio.

Robert Kennedy esticou sua ida a Brasília para conversar no Rio com um grupo de intelectuais contrários à ditadura. Mulher do então presidente Carter, Rosalyn teve importante papel em defesa de presos, ao voltar de visita ao Brasil. Pouco mais houve no mesmo sentido.

O evidente propósito de provocação da visita a presos na Venezuela não é motivo que justificasse dificuldades à viagem dos senadores encabeçados por Aécio Neves (PSDB-MG). Provocação não se alimenta, desmonta-se.

O que houve em Caracas foi esperteza às avessas. É claro que o governo Maduro autorizou todas as formalidades e, depois, mandou um grupo baderneiro forçar a volta, imediata e nada briosa, dos senadores. O bastante para alimentar mais ataques ao transtornado governo Maduro.

De repente preocupado com presos no exterior, o senador José Agripino (DEM-RN) foi apoiador da ditadura, fez-se político no partido da ditadura, sem jamais criticar, durante ou depois dela, "os excessos" de tortura, assassinatos e desaparecimentos. Aécio Neves, praieiro da Zona Sul carioca durante a ditadura, só fez melhor do que Agripino quando o avô se candidatou como opositor. Nem a presença de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), oponente armado aos militares, diminui o mero oportunismo provocador da comissão de senadores.

Mas que conviria saber como estão os presos venezuelanos, e quaisquer outros, disso não pode haver dúvida.


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