Folha de S. Paulo


Dizeres

A demora de sete dias para oficializar a escolha de Joaquim Levy, supondo-se que Dilma Rousseff cumpra logo mais o ato prometido, não se explica com o motivo difundido pelo governo.

Entende-se o cuidado de não comprometer Levy, se nomeado, com os ônus possíveis para o ministro da Fazenda caso o Congresso não aprove a modificação na Lei de Diretrizes Orçamentárias, para dar legalidade a contas governamentais fora do exigido. Mas a informação devida ao país pela presidente, deixada a nomeação para depois, não levaria a risco algum para o futuro ministro.

A divulgação não oficial do escolhido, feita na Presidência ao final da semana passada, indicou que Dilma Rousseff se prevenia contra reações de chocados com sua reviravolta e que a decisão estava tomada. Ou seja, um aviso de "sem retorno". (Que em certas circunstâncias também se chama beco sem saída).

Mas nem nestes tempos de pouca água e muitos vazamentos vazaram, da Presidência, indícios sobre os motivos da demora de anúncio presidencial. Insegurança, dificuldade de formular uma explicação, até a dúvida sobre falar ou escapar com uma nota oficial –no vazio oferecido todas as suposições são permitidas. E, no geral, tendem a algum acerto. O que não tira a graça e o interesse do pronunciamento prometido. Embora, não havendo faca no pescoço, não se espere que diga coisas surpreendentes.

Não, não. Retiro: da nova Dilma é prudente esperar.

Em um dos primeiros "vazamentos" de inquirição no caso Petrobras, foi transcrita a interrupção do juiz Sergio Moro a um depoente, proibindo-o de citar um nome que, pareceu pressentir, seria de político. Foi seco e explícito. Em resposta a advogados, o juiz Moro diz que a proibição é para "preservar a decisão da Suprema Corte". Refere-se à decisão de que sejam reservados ao Supremo os processos sobre os envolvidos com foro especial.

Citar o nome de um político como participante de ato ilegal não atinge a autoridade do Supremo. Nem sequer ignora a sua determinação, porque não é um ato do Judiciário. É uma afirmação do depoente a ser examinada pela instância judicial competente. E apenas ouvi-la também a nada infringe. Mas sua ausência, por proibição, talvez nunca mais seja preenchida: ao terminar essa fase dura de inquirições, cada depoente será um alvo de pressões, promessas e chantagens.

Nas bancadas petistas do Senado e da Câmara a tensão é alta. Na reunião da primeira, Gleisi Hoffmann rebateu crítica de Lindbergh Farias à escolha, para a Agricultura, da senadora Kátia Abreu, líder do agronegócio: "Ela foi a única liderança do agronegócio que apoiou a presidente e reconheceu o que o governo fez, enquanto os outros ficaram com Aécio".

É o prenúncio de um projeto de emenda constitucional, para incluir nas finalidades dos ministérios o seu uso como agradecimento pessoal.

O agronegócio faz política nas duas pontas. Na campanha de Lula, o lulista foi Roberto Rodrigues, que também ganhou o Ministério da Agricultura. Na última eleição, ficou com Aécio.


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