Folha de S. Paulo


O que as palavras dizem

Os gols têm prioridade, e não digo que seja imerecida. E têm o dom de ser decisivos, para o bem ou para o mal, sem depender do que se faça com eles. Mas as palavras, ainda que deixadas em plano secundário, não se omitem na sua leal função mensageira. Sempre dependentes de que o seu sentido mais rico seja buscado. O que não é prioridade nem quando não há festa de gols, seja por falta de percepção ou por conveniência de não expor os sentidos reais.

Os chefes das Forças Armadas fizeram, por exemplo, uma advertência importante à população, mas se considerou que apenas responderam a uma pergunta da Comissão Nacional da Verdade. Foi, no entanto, como se bradassem aos civis brasileiros: "Cuidado! Os quartéis são perigosos!".

Exército, Marinha e Aeronáutica responderam à comissão que os quartéis não serviram a desvios de sua finalidade legal durante a ditadura. Não só vítimas testemunham sobre torturas ali sofridas. Oficiais e policiais já fizeram confissões tão espontâneas quanto confirmadoras dos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos praticados em dependências militares.

Se os chefes militares consideram que nessas práticas não houve desvio de finalidade, está implícita a concepção de que tortura, assassinatos e desaparecimentos são uma finalidade do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em suas instalações. E salve-se quem puder.

Diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, Mark Weisbrot deixou uma frase rica de sentido no artigo em que chamou a atenção (ou melhor, tentou fazê-lo) para um problema que atinge também o Brasil. É a contribuição da agência americana de combate às drogas (DEA) à espionagem feita pelos EUA (Folha, 20/6). Diz ele, em adendo à descrença na melhora, no futuro próximo, de relações como afirmada a Dilma Rousseff pelo vice-presidente americano Joe Biden: "Washington espera ver um presidente mais subserviente à política externa dos Estados Unidos".

A frase, no fundo, propõe duas perguntas à reflexão do eleitor brasileiro: entre os candidatos à Presidência, quais tenderiam a atender a tal desejo do poder americano? Como deve ser a relação do Brasil com a política externa dos Estados Unidos?

Por falar nos Estados Unidos, o FMI produziu sugestivo relatório sobre a situação desse país. Diminuiu perto de um terço do crescimento econômico previsto para este ano e, ao incômodo reconhecimento de
que a pobreza "se mantém acima de 15%" dos americanos (cerca de 50 milhões), juntou uma recomendação: que seja aumentado o salário mínimo, medida social estimuladora da economia.

O inverso, portanto, do exigido pelo FMI aos países caídos em processo de empobrecimento social e em perda do crescimento econômico. Realidade interna e arrocho do Fundo Monetário de que Espanha, Grécia e Portugal se tornaram infelizes exemplos.

Fecho adequado a isso tudo é uma frase de Dick Cheney, vice-presidente no governo de George Bush e principal indutor da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Suas palavras sobre a violenta luta que explodiu agora no Iraque: "Meus pensamentos e minhas orações estão voltados para os poços de petróleo iraquianos".


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