Folha de S. Paulo


Sem medidas

O tempo, já bastante longo, consumido em discussões de medidas contra a exploração violenta dos protestos e reivindicações é muito justificável. Mas, até agora, não é produtivo. São muitas as propostas com baixa sensatez ou incapazes de inovar de fato.

Neste último caso estão as medidas relativas aos jornalistas. Reservar à Polícia Federal a investigação das agressões a jornalistas presume que as polícias estaduais, em tais deveres, são sempre incompetentes ou desonestas. O que não é verdade. E, quando o são, a lei já autoriza a intervenção da Polícia Federal.

Proibir a apreensão de câmeras e celulares seria útil, se tal ação policial não constituísse abuso de poder e apropriação indébita, já puníveis por lei. E assim vai. Isto é, não vai.

Se policiais agressores ficam impunes, se inquéritos são distorcidos, se o trabalho de repórteres é restringido, cabe aos meios de comunicação usar contra a impunidade dessas violações o poder que usam em tantos outros assuntos. Mas houve repórteres agredidos que não foram notícia, ao menos, e nem na TV a que estavam servindo.

A FUGA

Na carta de renúncia ao mandato de deputado, diz Eduardo Azeredo: "Estou pronto a responder em qualquer foro às acusações que me fazem". Não está, não.
As "pressões da cúpula do PSDB para sua renúncia", assim evitando danos à candidatura de Aécio Neves, são lenga-lenga a que certos jornalistas se prestaram. O próprio Aécio Neves deu entrevista negando, com razão, prejuízos seus com a condição de réu de Eduardo Azeredo no julgamento do "mensalão do PSDB". O objetivo da renúncia é obter, sem o "foro privilegiado" de uma só instância no Supremo, a volta do processo à Justiça comum, com seus lerdos recursos. Aos 70 anos, a prescrição. Azeredo já vai para 66.

OU MELHOR

Trecho do artigo "Amarildo sem polícia" (11.fev) permitiu a interpretação de que, a meu ver, os dois arruaceiros deliberaram matar o cinegrafista Santiago Andrade. É claro que não desejei adivinhar a intenção deles, nem de ninguém. Reproduzo o texto: "Uma poderosa bomba de fogo e som em velocidade fulminante, dirigida, deliberadamente, contra uma pessoa indefesa. 'Não havia a intenção de matar'. E precisaria haver? O que foi decidido fazer, o que foi feito, como foi feito e por quer foi feito dispensava qualquer consideração sobre consequências".

O meu sentido do que escrevi é este: quem decide lançar um rojão sobre uma ou várias pessoas, civis ou PMs, ou torcedores como na Bolívia, está aceitando todas as consequências possíveis. Nem faz cogitações a respeito. Não por outro mecanismo mental, Fábio Raposo não exibiu nenhum abatimento, depois. A fisionomia de Caio Souza era só a de um acovardado. Disse, aliás, estar com medo de ser morto.

Deliberado, a meu ver, foi direcionar o rojão para o cinegrafista. Há imagens dos dois se falando, seguindo juntos para a frente e, quando sozinho deposita o rojão, Caio o põe voltado para o cinegrafista. Horizontal ao solo, não estava posto para elevar-se de modo a chegar aos distantes PMs. A melhor sequência com todo esse momento, creio, é a da TV Brasil. Mas outras também permitem a percepção. Cinegrafistas e fotógrafos: a captação das identidades, os inimigos que obrigam a esconder os rostos.


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