Folha de S. Paulo


Israel mais perto de Rússia e Índia

Amir Cohen - 9.ago.2017/Reuters
Primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu
Primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu

Em tempos de Guerra Fria, governos israelenses, ancorados na aliança estratégica com Washington, estiveram em campo oposto ao de Moscou e de Nova Déli, líderes do chamado terceiro-mundismo e da "luta antiimperialista".

Esfarelado o maniqueísmo, Israel investe na aproximação com Rússia e Índia, em reorientação de uma agenda diplomática arquitetada para conviver, em paralelo, com a parceria histórica com a Casa Branca.

Em julho, na primeira visita de um premiê indiano a Israel, Narendra Modi aterrissou para uma recepção de gala no aeroporto, geralmente reservada a presidentes americanos. O líder foi recebido, ao descer da aeronave, pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e integrantes do primeiro escalão do governo israelense.

Na semana passada, Netanyahu reuniu-se com o presidente Vladimir Putin, sob o sol tépido da cidade russa de Sochi, destino preferencial de potentados russos no verão setentrional. Os dois dirigentes, nos últimos 16 meses, protagonizaram seis reuniões, com nada menos do que quatro viagens do premiê israelense à Rússia.

Netanyahu, nas tertúlias com Putin, abre o mapa da Síria e argumenta ser inaceitável para Israel o enraizamento militar de Irã e Hizbullah, aliados do ditador Bashar al-Assad, em cenário sírio de pós-guerra. O regime de Teerã e o grupo libanês ainda sustentam estratégias apoiadas na ideia da destruição do Estado judeu.

Putin, fortalecido na Síria após a intervenção militar de 2015, sinaliza entender as demandas de Netanyahu. Ele busca, no entanto, equilibrar esse pleito com os tradicionais laços políticos e econômicos cultivados por Moscou com o governo teocrático iraniano.

Além de pressionar o Kremlin, de olho no ressurgimento da influência russa no Oriente Médio, Netanyahu abre o leque diplomático em direção à Índia. Se a recepção a Narendra Modi se envolveu em mesuras, o premiê indiano devolveu a cortesia em gesto apreciado pelo governo israelense. O premiê indiano não incluiu, no périplo diplomático, visita a lideranças palestinas.

Modi sinalizou a intenção de descolar a agenda de cooperação bilateral do cenário complexo representado pelo conflito israelo-palestino.

A Índia, embalada por altas taxas de crescimento econômico, busca tecnologia israelense em áreas como defesa, dessalinização de água e agricultura, enquanto Israel planeja surfar na expansão do gigante asiático. O comércio bilateral, em 1992, somou US$ 200 milhões, para acumular, no ano passado, US$ 4,5 bilhões.

Binyamin Netanyahu não planeja desinflar os laços históricos com os EUA, construídos sobretudo a partir do final dos anos 1960. Mas o premiê israelense acelera a diversificação da agenda diplomática, ao avaliar fatores conjunturais e também estruturais.

No curto prazo, turbulências domésticas do governo Trump contribuem para esfriar o diálogo bilateral. No longo prazo, Israel calcula não poder abrir mão de aprofundar vínculos com centros emergentes de poder, como Moscou e Nova Déli, ainda que sem comprometer o relacionamento com Washington.


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