Folha de S. Paulo


Ignorada por Trump e Kim, iniciativa de China e Rússia reduziria tensão

Relevante chave para entabular diálogo e diminuir a temperatura da crise entre Donald Trump e Kim Jong-un apareceu no início de julho, quando os presidentes russo, Vladimir Putin, e o chinês, Xi Jinping, se reuniram em Moscou e lançaram um plano, infelizmente, ignorado até agora.

Segundo a proposta, a Coreia do Norte suspenderia seu programa de mísseis balísticos, enquanto EUA e aliados sul-coreanos anunciariam moratória dos exercícios militares conjuntos.

Sergei Karpukhin - 4.jul.2017/Reuters
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, se reúnem no Kremlin em 4 de julho
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, se reúnem no Kremlin em 4 de julho

No final de semana, em meio ao tiroteio retórico entre Washington e Pyongyang, Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, colocou novamente sobre a mesa a proposta, desenhada para ser o primeiro passo de um processo de diálogo multilateral, a fim de envolver, além de EUA e Coreia do Norte, outros países da região.

Sob a opulenta decoração dos salões do Kremlin, Putin e Xi propuseram, há mais de um mês, uma barganha diplomática, pois, experientes no trato com a vizinha dinastia Kim (Rússia e China compartilham fronteira com a Coreia do Norte), sabiam dos riscos de agosto.

É o período do ano em que norte-americanos e sul-coreanos costumam realizar pujantes exercícios militares, encarados por Pyongyang como oportunidade para disparar sua típica barragem de vociferações, cultivada desde os tempos cinzentos da Guerra Fria.

As pressões de Moscou e Pequim, no entanto, parecem ainda não surtir efeito. O Pentágono anunciou a manutenção dos exercícios militares com os aliados sul-coreanos, a ocorrer em menos de duas semanas.

Na quinta (10), a Coreia do Norte havia anunciado, também para meados de agosto, a conclusão de um plano para disparar mísseis contra alvos no oceano Pacífico, a poucas dezenas de quilômetros da ilha de Guam, base militar americana.

Portanto, se implementada, a iniciativa sino-russa significaria, nos próximos dias, desmontar o ensaio bélico EUA-Coreia do Sul e abortar mais uma rodada de lançamento dos mísseis de Kim Jong-un. Haveria então drástica redução das tensões oriundas da península coreana, com seus tentáculos já atravessando o oceano Pacífico.

Xi Jinping e Donald Trump conversaram ao telefone no sábado. Comunicados oficiais sobre o diálogo, vindos de Washington e Pequim, ofereceram conteúdos previsíveis, alinhando tópicos como a "necessidade de medidas para evitar escalada de tensões" e a descrição de "relações extremamente próximas entre os presidentes".

A Casa Azul, sede do governo sul-coreano, também emitiu nota sobre o diálogo telefônico entre Xi e Trump. Exalou otimismo e afirmou esperar que a conversa "funcione como um catalisador para levar a situação a uma nova dimensão".

Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, torce para a implementação de iniciativas como a proposta sino-russa. Embora tenha elevado o tom das críticas à ditadura norte-coreana, Moon representa as forças políticas de seu país embaladas pela ideia de dialogar com a dinastia dos Kim, em Pyongyang.

China e Rússia sugeriram uma saída, que, adotada, certamente traria a "nova dimensão" sonhada pela Casa Azul.


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