Folha de S. Paulo


O turbante de Kim Jong-un

09.nov.2016/Reuters
FILE PHOTO - North Korean leader Kim Jong Un inspects a sub-unit under KPA Unit 1344 in this undated photo released by North Korea's Korean Central News Agency (KCNA) in Pyongyang November 9, 2016. REUTERS/KCNA/File Photo ATTENTION EDITORS - THIS PICTURE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. REUTERS IS UNABLE TO INDEPENDENTLY VERIFY THE AUTHENTICITY, CONTENT, LOCATION OR DATE OF THIS IMAGE. FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. NO THIRD PARTY SALES. NOT FOR USE BY REUTERS THIRD PARTY DISTRIBUTORS. SOUTH KOREA OUT. NO COMMERCIAL OR EDITORIAL SALES IN SOUTH KOREA. THIS PICTURE IS DISTRIBUTED EXACTLY AS RECEIVED BY REUTERS, AS A SERVICE TO CLIENTS. TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: SIN301
O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un

Além das ameaças nucleares a países vizinhos e aos EUA, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, lança tentáculos desestabilizadores no Oriente Médio, onde Israel e Arábia Saudita, por exemplo, lidam com investidas do último bastião do comunismo stalinista.

Mísseis, armas e tecnologias de Pyongyang alimentam arsenais de aliados como Irã e Síria, empenhados em combater "o imperialismo norte-americano".

Ameaçado pelo relógio da história, o ditador Kim Jong-un tenta salvar o regime anacrônico e prossegue a receita, herdada do avô e do pai, de associar o fim de seu poderio a um "big bang" político e militar, com alcance para mergulhar em crise colossal a região da Ásia-Pacífico, principal dínamo da economia global.

Em 1996, quando trabalhava como correspondente da Folha em Pequim, consegui visto de entrada para o "reino eremita" da ortodoxia comunista.

O regime, orgulhoso de portar o rótulo de "país mais fechado do planeta", recebia jornalistas estrangeiros para vender a imagem de um governo politicamente fortalecido e economicamente vitaminado.

A Coreia do Norte buscava, naquele momento, projetar solidez, pois lidava com perdas impactantes: o fundador do regime, Kim Il-sung, havia morrido dois anos antes, e, em 1991, desaparecera a URSS, patrocinadora histórica do comunismo na península coreana.

Após a morte de Kim Il-sung, e com a ascensão do filho, Kim Jong-il, sacramentava-se a sucessão dinástica no mundo comunista, em meio a incertezas de como lidar com o desafiador cenário desenhado pelo esfarelamento da Guerra Fria e da URSS.

Imagens da Alemanha Ocidental engolindo a porção oriental do país, antes sob tutela do Kremlin, reverberavam em Pyongyang e levavam o regime a acelerar a estratégia de sobrevivência apoiada no domínio de bombas atômicas.

Apesar do isolamento crescente no cenário pós-Guerra Fria, a Coreia do Norte encontrou no Oriente Médio terreno fértil para fermentar escassas alianças, baseadas em pilares ideológicos, como o antiamericanismo, e em interesses econômicos, com a possibilidade de venda de tecnologia nuclear e de mísseis, além de armamentos leves, a países como Irã e Síria.

Digitais de know-how norte-coreano foram encontradas na construção, pelo grupo palestino Hamas, de túneis subterrâneos, para infiltrar terroristas em solo israelense.

Já em 1978, a Coreia do Sul descobriu a primeira de uma série de passagens escavadas, na sua região de fronteira, pela dinastia dos Kim.

Na Arábia Saudita, desabaram, dois anos atrás, mísseis produzidos na Coreia do Norte, segundo o serviço de inteligência sul-coreano.

Os disparos de mísseis foram feitos por rebeldes do vizinho Iêmen, apoiados pelo Irã, em resposta ao apoio saudita ao governo iemenita, alinhado às monarquias árabes do Golfo Pérsico.

No complexo tabuleiro do Oriente Médio, a Coreia do Norte também mexe peças.

Desarmar o regime de Kim Jong-un, por meio de um acordo diplomático provavelmente capitaneado pela China, dona de laços relevantes com Pyongyang, traria consequências em escala global, muito além de paragens na Ásia-Pacífico.


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