Folha de S. Paulo


Peru e Índia se preparam para o século 21 ao construírem agendas nacionais

Separados por anos-luz na geografia, Peru e Índia possuem bússolas de admirável precisão para navegar nos meandros do século 21. Correspondem a dois exemplos de países empenhados em implementar projetos nacionais, alicerçados em visões estratégicas e construídos a partir de grau importante de consenso na sociedade, para definir um plano de voo de longo prazo em sua inserção global.

Muito se pode debater sobre escancaradas diferenças entre Peru e Índia. Mas é inevitável, ao acompanhar o noticiário oriundo de Lima ou Nova Déli, perceber os dois países conseguindo costurar agendas nacionais num caldo democrático, enfraquecendo a falácia de reservar apenas a regimes autoritários, como o chinês, a facilidade de implementar projeto de longo prazo.

Ao construírem, cada qual a seu modo, agendas nacionais, Peru e Índia implementam reformas estruturais e organizam projetos para resistir aos inevitáveis interesses imediatistas, partidários ou setoriais.

A chave está em um processo político capaz de construir um consenso mínimo entre parcelas importantes da sociedade e, no final das contas, se armar para os embates do século 21.

Nos casos peruano e indiano, atores políticos e sociais buscam um entendimento sobre como enfrentar o jogo da globalização com economias apoiadas em reformas estruturais, aberturas comerciais e aumento da competitividade no plano internacional.

O Peru passou recentemente por eleição presidencial. No segundo turno, nenhum dos contendores propunha tirar o país da senda trilhada a partir da gestão de Alejandro Toledo (2001-2006), sobrevivendo a administrações mais à direita, como de Alan García (2006-2011), ou mais à esquerda, como de Ollanta Humala (2011-2016).

Dono de coleção de acordos comerciais com gigantes como EUA, China, Japão e União Europeia, o Peru enfatiza, por exemplo, a vocação exportadora e gerou uma das mais intensas taxas de crescimento econômico do planeta, com expressiva redução da pobreza, embora o fantasma da má distribuição de renda ainda castigue o país. Segundo o FMI, o PIB deve crescer 3,7% em 2016 e 4,1% no próximo ano.

O atual presidente, Pedro Paulo Kuczynski, guarda como um de seus principais desafios impedir a sabotagem de alicerces responsáveis por blindar a economia de picuinhas políticas. A oposição fujimorista controla mais da metade das cadeiras do Parlamento.

Na Índia, governo e oposição aprovaram, no começo do mês, uma reforma tributária considerada a mais ousada medida das mudanças inauguradas em 1991.

Transformaram 15 taxas estaduais e federais em um único imposto, em iniciativa arquitetada para colocar mais lenha na fogueira da expansão econômica.

Projetos de reforma tributária se arrastavam no Parlamento indiano desde o começo deste século. O premiê Narendra Modi construiu com a oposição um consenso sobre a importância de o país avançar, a passos mais rápidos, rumo a um projeto estratégico: fazer com que a Índia substitua a China, nas próximas décadas, como grande dínamo da economia global. De rincões tão diversos como Peru e Índia, experiências de fazer inveja ao Brasil.


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