Folha de S. Paulo


A saga da Belinha

Não conheço a cadela. Tampouco as pessoas envolvidas no resgate. Mas acompanhei o drama desde o início, pelas redes sociais e por anúncios na mídia local. Belinha, uma charmosa vira-lata de olhos cor de mel e pelagem acinzentada, havia fugido da casa dos adotantes, no município de Alumínio.

A cadela foi finalmente salva depois de 33 dias repletos de ansiedade por parte de protetores de animais, projetada nos relatos sobre os insistentes mutirões de busca.

A foto dela estampou pensamentos meus durante dias. Circulava pela região de olho também na possibilidade de cruzar com seus caminhos. Conheci, ao ler narrativas sobre ações da Sociedade Protetora dos Animais de São Roque, nomes de bairros da área onde ocorreu a fuga: Colibri, Filgueiras, Oncinha.

Entristeci ao me deparar com uma postagem responsável por destilar a frustração de ativistas: eles haviam recebido a informação do suposto paradeiro da Belinha, mas, ao vasculhar Vila Paraíso, em Alumínio, não a encontraram.

Ilustração Tiago Elcerdo / Mariana Salimena
#ARSAO1511 BICHOS

A persistência e o compromisso com o destino da cadelinha prevaleceram, e a foto de Belinha com a legenda "encontrada", publicada nas redes sociais, ajudou a anunciar o final de uma desventura iniciada no dia 4 de outubro.

A cadela retornou ao canil. Pelo que entendi, não sairá mais do radar dos seus protetores. O episódio provoca diversas reflexões, mas gostaria de enfatizar uma delas: a importância da mobilização da sociedade civil em áreas nas quais o poder público demonstra incompetência e ineficiência.

Até onde sei, Belinha não contou com ajuda decisiva de instituições nos planos municipal, estadual ou federal. Seu destino dependeu e depende essencialmente de ativistas que se dispõem a não esperar pela ação governamental em um país onde recursos não são escassos.

Escassas são as políticas e as iniciativas que recuperem a confiança da população no uso eficiente do dinheiro público.


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