Folha de S. Paulo


Laços de família

Que a família é uma estrutura fundamental, isso é indiscutível. Ao menos no mundo dos humanos. No universo canino, muitas vezes, testemunhei os laços familiares se diluírem na matilha, dando espaço a novas formas de hierarquia e relacionamento entre cachorros.

No entanto, Farofa e seus filhos Celeste e Bolt me proporcionam experiências inéditas.

Fico impressionado como a genitora e a prole, já na maturidade, cultivam uma relação especial, em meio à teia de vínculos entre os diversos integrantes do grupo. Farofa, Celeste e Bolt desfrutam de seus momentos de privacidade, às vezes brincam só entre eles ou compartilham espaço para uma soneca.

Ilustração Tiago Elcerdo

Recentemente, flagrei uma cena hilária. Estava tratando dos coelhos, com a cachorrada do lado de fora. Três cabeças, com olhar fixo nos orelhudos, pareciam grudadas. Estavam na mesma posição. Eram Farofa, Celeste e Bolt.

Farofa surgiu em nossas vidas quando minha filha, Silvia, e eu, nos preparávamos para atravessar uma avenida no bairro paulistano do Jaguaré. Enquanto caçava um táxi, Silvia avistou uma mulher que atravessava o asfalto com uma cadela no colo. Imaginamos se tratar de um passeio, num jeito pouco usual de mudar de calçada.

Arfando, a mulher relatou que havia retirado a vira-lata do meio da via pública, com o risco de atropelamento. Entramos num pet shop, em busca de abrigo para o animal. E, quando adentramos, a cachorra deitou com a barriga para cima.

Terna, conquistou-nos de imediato. O problema seria achar um táxi que topasse levá-la. Mais uma vez o acaso interveio, e um motorista que havia acompanhado a saga se ofereceu para nos transportar.

No final de semana seguinte ao ocorrido, Farofa desembarcou no sítio. Estava prenhe. Meses depois, veio a ninhada de cinco filhotes. Conseguimos doar três deles. Bolt e Celeste ficaram. E, com a mãe, protagonizam até hoje cenas de ternura familiar.


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