Folha de S. Paulo


Galopes e preguiças

Há tempos planejo ampliar a fauna do sítio com plumados como galinhas, patos e gansos. Das galináceas, espero contribuição em ovos. Dos palmípedes, conto com a beleza e o vigor de proteção dos que desfilam personalidade territorialista.

Enquanto preparava a infraestrutura para receber as aves, adiantei-me e avistei uma loja para comprá-las. Encontrei as poedeiras almejadas, os gansos famosos pelo desempenho de guarda e os estéticos patos que, descobri na imprescindível pesquisa antes de convívio, conseguem a proeza de dormir com apenas metade do cérebro em descanso. A outra parte fica em alerta, contra predadores.

Ao adentrar a loja, queria saber se poderia checar a informação e ver um pato com um olho fechado e o outro, aberto. Veio, no entanto, a surpresa. Fui recepcionado não por uma ave, mas por um pônei.

Ilustração Tiago Elcerdo

O animal pavoneou-se. Jogou, com um balançar de corpo, a crina de um lado para outro. Apesar da exibição, também demonstrou muita calma. Voltou a mastigar a ração depois de se apresentar.

O pequeno cavalo, de pelagem branca e tons acinzentados descendo pela crina espessa, conquistou-me de golpe. Por consequência, causou uma mudança de planos em relação aos ovíparos, cuja chegada entrava em espera.

Brinquedo era o nome do pônei. Passou parte da juventude em um bufê infantil, divertindo crianças. A paciência de Jó provavelmente vinha da convivência com ambientes modelados pela adrenalina dos pimpolhos, regados a gritos de parabéns, com mães, babás e monitores a todo vapor para controlar traquinagens.

Aposentado do convívio festivo, o pônei desembarcou no sítio. Divide o pasto com um bode e três cabras. Parece que às vezes Brinquedo se enjoa de tanta placidez. Nesse momento, sai em disparada para correr à vontade, gastar energia e receber uma espécie de olhar de desaprovação dos caprinos. Estes, sem se movimentar, olham com enfado a explosão do pequeno equino.


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