Folha de S. Paulo


A polêmica do sexto sentido

Um tumor muito agressivo abreviou de forma trágica a vida de um amigo meu. Entre diagnóstico e despedida, apenas cerca de dois meses.

Naturalmente, não preciso descrever a tristeza e a perplexidade em torno de familiares e conhecidos. Mas quero compartilhar a história do Billy, o cãozinho de estimação da família.

Contou-me o episódio a mulher do meu amigo que se foi. Conheço-a há bastante tempo, é dona de uma personalidade bastante ponderada, exala inteligência. Diante de vários temas polêmicos, muitas vezes se alia à ala dos céticos.

Durante a internação do tutor, Billy dava claros sinais de tristeza. Havia perdido o vigor típico dos teckels, os famosos salsichas. Evidenciava sentir a lacuna em casa.

Ilustração Tiago Elcerdo

Após o falecimento do dono, minha amiga voltou para casa e ouviu da funcionária doméstica que, a certa altura daquele fatídico dia, Billy começou a se agitar. Andava em círculos e gania. Disparava uivos.

A dona do animal de estimação perguntou em qual momento do dia havia ocorrido o espasmo. Comparou com a hora da morte do marido, ocorrido no hospital, a quilômetros de distância. Naquele momento de tragédia, a notícia ainda não havia chegado ao lar de Billy.

Costumeiramente eivados de ceticismo nos relatos sobre poderes telepáticos e "sextos sentidos", minha amiga e eu suspiramos fundo ao final da história.

Sempre compartilhamos o interesse pelos animais. E, agora, dividimos o interesse em entender a reação do Billy.

Obviamente não disponho das ferramentas de conhecimento necessárias à tarefa. Temo ter de conviver com a dúvida para sempre.

Na web, achei estudos sobre o tema. Um pesquisador britânico, Rupert Sheldrake, ao argumentar ter um banco de dados com mais de 5 mil relatos com episódios semelhantes ao de Billy, alimenta controvérsias.

Aguardo, pacientemente, mais vozes de cientistas.


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