Folha de S. Paulo


Cada um na sua

Interessante como os animais demonstram sua individualidade. Idiossincrasias, manias, trejeitos, obsessões desenham seres que costumam também ser únicos na hora de optar por alimento. Refleti sobre isso enquanto minhas cabras escolhiam quais oferendas da horta comeriam. Cada uma montou o seu cardápio.

Em geral, Brito, o bode, mostra maior volúpia e menos critério. Aceita cebolinha, erva-doce e até rabanete. A mãe, Violeta, rejeita alimentos usados por humanos como tempero. Mas, com a filha Amora e a neta Margarida, curte a cenoura e deglute os pedaços de abacate recém-chegados do pomar. Brito, como era de se esperar, não recusa a sobremesa.

Ilustração Tiago Elcerdo

Entre os coelhos, a Lili gosta de couve, nas versões mineira e tronchuda. Como a irmã Popó, se apresenta na hora que a cesta com verdume desponta na porta do coelhário. Já os machos Quincas e Maneco são mais conservadores. Muitas vezes preferem a ração no comedouro ao trabalho de romper as fibras frescas. Tampouco mostram grande interesse pelos nacos de maçã, verdadeira tentação para Lili.

Entre os cães, Bianca escolhe seus petiscos "a pata". Não aceita qualquer coisa, e só engole depois de uma longa e profunda checagem olfativa. É o oposto da Farofa. Essa abre a boca e "checa" depois o que comeu. Não quer nem saber o cheiro.

Além das duas vira-latas, os outros integrantes da matilha também cultivam preferências gastronômicas. Celeste, filha de Farofa, desenvolveu uma "abacate-dependência". Pula a cerca para, sorrateiramente, se aproximar do abacateiro e levar um fruto caído no chão. Boris, o dogue alemão manda-chuva da matilha, nem se aproxima das frutas. Do universo vegetal, no máximo, aceita uma cenoura.

Hooper, o samoieda, é o glutão que exige olho na balança. Para ele, caiu na rede é peixe. Maçã, cenoura, petiscos de variadas formas e origens compõem o democrático menu desejado pelo cão. Mas a boca sempre aberta cobrou um preço: hoje, come ração indicada para emagrecimento.


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