Folha de S. Paulo


Posse bem irresponsável

Quando chegou, o novo caseiro do sítio perguntou se poderia trazer dois cães. Pertenciam ao enteado, que havia se mudado para um apartamento em São Paulo e não tinha mais espaço para os mascotes. De cara, concordei com o pleito.

Achei que seria bom também o novo funcionário contar com mais dois cachorros para cuidar. Tinha pouca experiência no ramo, mas parecia cheio de entusiasmo diante do novo desafio. Preparamos então a chegada de dois habitantes à nossa convivência.

ilustração Tiago ElcerDo

Pouco tempo depois, as filhas adolescentes do novo caseiro quiseram ficar com uma adorável filhote abandonada que, sabe-se lá como, conseguiu entrar no sítio. Também não me opus.

Portanto, rapidamente a matilha do sítio ganhou três integrantes, totalizando 17 entre "os seus e os meus". Convívio intenso, mas naturalmente despesas separadas. E quase na mesma velocidade em que inflou a população canina, apareceram os problemas no dia a dia no relacionamento com o novo funcionário.

No final, uma separação amistosa. Chegamos à conclusão de que a tentativa havia sido válida, mas um sítio não era o cenário mais indicado para aquele trabalhador com inclinações urbanas. Ele se mudou em questão de dias e prometeu voltar depois para buscar os cães.

E não foi isso que ocorreu. Dias se passaram, até receber um telefonema dele. Sustentou que não havia onde acolher os cães e me colocou diante de um dilema: ficar com eles ou encaminhá-los à adoção.

Respondi que, se alguém devia levá-los para um abrigo, era ele, responsável pelos cachorros, e não eu. E acrescentei: é intolerável o abandono de animais. No final das contas, temendo pelo futuro do trio canino, assumi a responsabilidade pela vida deles.

E engordei não só a matilha. Engordei também, mais uma vez, a minha planilha de custos. Preferi essa opção, com suas naturais dificuldades embutidas, a um futuro incerto para os mascotes.


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