Folha de S. Paulo


Um amigo inesperado

Quase sempre nos encontrávamos pela manhã. Ela cuidava da limpeza da entrada do prédio, enquanto eu saía com meus dois cães para o passeio rotineiro. Certo dia, entre as saudações mútuas, a funcionária comentou: "Meu filho sonha em ter um cachorro, até agora só consegui dar um de pelúcia". Indaguei se o desejo era presentear com um mascote de carne e osso. Recebi uma resposta afirmativa.

Música para meus ouvidos. Encontrava assim mais uma modestíssima maneira de auxiliar o admirável trabalho de ONGs dedicadas ao resgate de animais. Tento ajudar, por exemplo, na busca por casas para cães e gatos.

Sem o traquejo das ativistas, entrevistei a candidata sobre seus planos, espaço disponível na casa, preferências entre macho ou fêmea, idade mais adequada para o adotado. Fui, com o perfil em mãos, a uma feira de adoção promovida em São Roque por uma das ONGs cujo trabalho acompanho.

Max, filhote com jeitinho de raposa e pelagem preta brilhante, foi o eleito. Acompanhado de Silvia, minha filha e fiel escudeira para temas caninos (entre outros), montamos um kit-presente para a nova família: saco de ração, dois potes, bolinha, petiscos e coleira. Aguardávamos ansiosamente, o reencontro com a futura dona, na manhã seguinte.

Ela chegou animadíssima. Contou que o filho praticamente não havia pregado os olhos, à espera do novo companheiro. Surgiu então o problema do transporte. Ao contrário do que imaginava, não conseguimos um carro naquele dia. O deslocamento ficou para a manhã seguinte.

Quando acordei, a notícia surpreendente. A suposta adotante fez chegar até mim o recado de que os planos haviam mudado. Lembrou-se de consultar o proprietário do imóvel alugado. Recebeu um não. Só não entendi por que a pergunta não tinha sido feita no início da história. No final das contas, melhor para nós. Jamais devolveríamos o Max. Incorporou-se à nossa matilha no sítio.


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