Folha de S. Paulo


Por uma memória eterna

Após a curta passagem dos amigos cães em nossas vidas, é natural buscar formas de preservar a memória. Já testemunhei diversas homenagens, mas acredito ter encontrado uma bastante inusitada quando entrei no stand 48 da imensidão da Crufts, o maior evento canino do planeta. Foi em março passado, na cidade britânica de Birmingham.

Ilustração Tiago Elcerdo

Atraído pelas pequenas esculturas, passei a vasculhar o trabalho da artista Madeleine Vale. Ela transforma imagens de animais, em especial cachorros, em placas e sinais de parede artísticos. Molda também peças em argila.

Um folheto promocional anunciava uma das principais linhas de trabalho da eclética escultura. Sob o título de "Your Pets Ashes" (as cinzas do seu cão), Madeleine propõe a entrega de restos mortais do mascote após a cremação, que serão misturados à argila, com o objetivo de elaborar uma escultura.

De posse de uma foto do animal, as mãos da artista reproduzem as características do amigo perdido.

"Ofereço uma ideia única", vendia a peça de propaganda de Madeleine. Depois de explicar a proposta, o folheto concluía: "Isso captura a essência, para sempre, do seu amado pet dentro da argila". Outra sentença: "Lembre, em argila, daqueles dias felizes".

Conheço donos que guardam as cinzas do mascote que se foi. Mas não conhecia a proposta de escultura que Madeleine Vale sustenta ser "única".

Para eternizar a memória de meus amigos de quatro patas, cultivo opções mais tradicionais. Para o samoieda Vássia, meu primeiro companheiro da raça siberiana, montei um amplo painel fotográfico. Capturei os momentos mais felizes de seus 13 anos de existência.

Insatisfeito, também batizei meu refúgio campestre em sua homenagem: Sítio do Vássia.

Tenho apenas alguma dificuldade em explicar para os vizinhos que trata-se, sim, de um nome masculino. É, em russo, o diminutivo de Vassily.


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