A samoieda Nádia, que nos deixou em fevereiro, lentamente perdeu o movimento das patas traseiras. À medida que músculos se enfraqueciam, tornou-se mais dependente para levantar ou para um curto passeio. Precisava de mim, por exemplo, para colocar as mãos sob seu corpo, para facilitar o equilíbrio e a locomoção a passos econômicos.
Com insistência, procurei nas lojas uma guia que simulasse minhas mãos. Não encontrei. Continuei improvisando. Paciência. O mais importante era oferecer qualidade de vida à minha debilitada anciã.
Nádia passou por um período de internação. Quando de seu retorno, o veterinário sugeriu a compra de bexigas tamanho extragrande, usadas em festas infantis, para, com toques de artesão, transformá-las em botinhas com alto grau de aderência ao chão. Assim, os parcos movimentos da cachorra, como levantar, demandariam menos esforços.
Ilustração Tiago Elcerdo | ||
Poucas semanas depois da partida da Nádia, então com 14 anos, desbravei o maior evento canino do planeta, a Crufts, mescla britânica de exposição de mascotes, competições esportivas e bazar de novidades do universo pet. Milhares de pessoas serpenteiam entre os mais de 400 estandes em cinco pavilhões, no principal complexo de feiras e eventos na cidade de Birmingham.
Encontrei à venda produtos que havia, pouco tempo antes, buscado sem sucesso ou usado para criar arremedos. Fiquei imaginando como poderia ter proporcionado mais conforto à Nádia em seus últimos dias com aquelas guias e botinhas oferecidas no Reino Unido.
Não é novidade descobrir que existem sociedades de consumo mais robustas do que a nossa. Mas, antes de soar como consumista desenfreado, confesso não apreciar a humanização dos pets e as toneladas de quinquilharias que ela produz. Mas quando se trata de proporcionar saúde e qualidade de vida aos pets, invejo a gama de produtos à venda em países europeus ou nos EUA. Consumo, com moderação, também faz bem.