Folha de S. Paulo


Carpas e cores

Na infância, eu associava carpas a um prato típico da culinária judaica oriunda da Europa oriental: "guefilte fish". O bolinho de peixe navegava imperial nas mesas das principais cerimônias, com uma coroa de rodela de cenoura em cima e, ao lado, uma porção de raiz forte avermelhada, por conta da adição de beterraba.

O "guefilte fish" apresenta uma cor meio indefinida, entre o verde e o ocre. Mas, com os apetrechos, até que vira um carnaval de cores para uma gastronomia modulada pelo frio, pela gordura e, em geral, pela ausência de cores mais vibrantes.

Mas, um dia, as carpas invadiram minha vida por outro lado. Percebi como podem ser coloridas, em especial as "nishikigois". São ornamentais, oriundas do Japão e apresentam uma infindável variação de tons nas escamas. Existem muitas variedades, há até pedigree e as exposições e vendas movimentam recursos bastante polpudos.

Ilustração Tiago Elcerdo

Descobri-as graças à Dodó, minha tartaruga-tigre-d'água. Para alojá-la, comprei todos os tamanhos de aquaterrários disponíveis no mercado, acompanhando seu crescimento. Seis anos depois da chegada, já não conseguia se movimentar com desenvoltura entre os agora apertados vidros do viveiro.

Decidi construir um lago no sítio, para acomodar a representante dos répteis em nossa família. Cavamos um buraco e procuramos orientação de especialistas. Estudei várias ofertas no mercado e optei pela versão "faça você mesmo", montando a estrutura de filtragem e o paisagismo. No final da empreitada, acabei recorrendo a uma empresa especializada.

Logo de cara, constatei que o laguinho poderia acomodar vizinhos para a Dodó. Despontaram como candidatos mais fortes as carpas ornamentais. Compramos nove delas, num mosaico de colorações, mesclas de branco, laranja, amarelo e preto. Alimentá-las e observá-las é uma relaxante terapia. Mas ainda não atingi um objetivo: acostumá-las a pegar comida em minha mão. Mas eu chego lá.


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