Folha de S. Paulo


Do outro lado do balcão

Já adotei vários cães na minha vida. Hoje, a matilha contabiliza 12 integrantes, e apenas um deles, o imponente Boris, dogue alemão de 70 quilos, veio de um canil. Tenho dois samoiedas: uma nascida em casa, a já idosa Nadia, e o irrequieto Hooper, retirado de um apartamento onde permanecia na área de serviço.

Ilustração Tiago Elcerdo

Ainda tem a Tita, oriunda de feira da adoção, o Chico Bento, achado no fundo de um poço após dias sem ver a luz do sol, Lucky e Meggy, que, sem cerimônias, entraram no sítio e de lá jamais saíram. Tem ainda Francesca e Lela, filhas da Meggy, que chegou prenhe, Pimpolho, encontrado à porta da casa de uma conhecida com menos de 30 dias de vida.

Poucos meses atrás, a Farofa entrou em nossas vidas. Literalmente cruzou nosso caminho, ao tentar atravessar uma movimentada avenida de São Paulo. Mais um caso de prenhez na adolescência. Cinco rebentos passaram a habitar nosso paraíso bucólico.

Nossa capacidade de resgate se encontra próxima do esgotamento. Cuidar de uma matilha numerosa representa desafios, e, num momento raro de lucidez, decidimos doar os filhotes. Combinei com minha filha, Silvia, que não iríamos dar nomes, para diminuir riscos de construir laço emocional e desistir da doação.

Silvia confessou ter alcunhado os rebentos, mas ressalvou que guarda os apelidos em segredo. Melhor assim, ponderei. Precisamos nos concentrar na tarefa de encontrar lares e adotantes responsáveis por garantir à prole um futuro seguro.

Arregaçamos as mangas e mergulhamos na tarefa. Buscamos dicas sobre como preparar o animalzinho para a adoção, por exemplo, vacinando e castrando, e sobre como se precaver na hora de selecionar um candidato a ficar com os filhotes, agora com quatro meses de vida.

Já percebemos não se tratar de tarefa fácil. O que apenas fez aumentar ainda mais o respeito por quem se dedica sistematicamente a viabilizar a retirada de cães e gatos das ruas.


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