Folha de S. Paulo


A minha amiga hiena

No ranking dos animais mais vilipendiados, a hiena guarda um lugar de destaque. O estigma de oportunista, devoradora de carniça e responsável por um som similar ao de uma risada nada simpática permeia diversas histórias infantis. No filme "O Rei Leão", sua aparição pode provocar calafrios até nos adultos.

Lobos, cobras, aranhas e crocodilos, entre outros, engrossam a lista de bichos com sério problema de relações públicas. Passaram a permear o imaginário humano com cenas de violência, traição e horror. E, longe de serem protagonistas apenas de cenários sombrios, cumprem o papel que a natureza lhes destinou.

Ilustração Tiago Elcerdo/revista saopaulo

Em viagem à África do Sul, apaixonei-me por um filhote de hiena. No Lion's Park, uma das principais atrações de Johanesburgo, os visitantes podem interagir com crias de diversas espécies regionais, numa das visitas típicas de quem busca experiências africanas, sem se expor aos desafios de uma incursão mais selvagem.

Apesar do nome, o Lion's Park oferece a chance de encontros cara-a-cara com diversos bichos. Os felinos gigantescos constituem os atores principais, como os filhotes da área cercada e aberta à interação. Encontrei-os lá, refestelados sob o sol do nada suave inverno sul-africano. Mas quem mais chamou minha atenção foi a pequena hiena, com poucos meses de vida.

Seus dentes finos e afiados escolheram o meu tênis para mastigar. Instintivamente, o bicho mordeu minha mão quando o acariciava, fechando a boca com uma pressão insuficiente para me machucar, mas na medida certa para me arrancar um pouco de sangue caso, num lance mais brusco, movesse o meu braço. Esperei alguns segundos até o filhote abrir a boca e tirei a mão com segurança.

Muitos turistas não davam bola para a hienazinha. Preferiam festejar os filhotes de leão. Perderam a chance de se interessar por um animal com claros problemas de imagem.


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