Escrevo este texto na trepidante Xangai. Passo férias na China, onde morei entre 1994 e 1997, como correspondente da Folha, e, de tempos em tempos, volto para acompanhar as mudanças gigantescas no país mais populoso do planeta. E, claro, avalio com olhos de jornalista habituado a cobrir os eventos políticos e de um amante de animais.
Comecei a jornada pela capital Pequim, envolta num calor escaldante. Apesar do desafio, caminhei bastante e registrei uma saraivada de mudanças, como a impressionante metamorfose arquitetônica, cada vez mais futurista e capitalista. Vi, mais de uma vez, cães de estimação nas ruas pequinesas. Novidade que não havia percebido nem na minha ultima passagem por aqui, em 2007.
Ilustração Tiago Elcerdo | ||
Nos tempos do comunismo ortodoxo, criar cães parecia um pecado ideológico. Afinal, por que alimentar um animal de companhia enquanto existem bocas humanas à espera de comida? Essa era a questão feita pelos comissários. Agora, a lógica mudou. Surgiram até mesmo pet shops pelas ruas da cidade. Em Xangai, topei com um chinês que levava seu collie a um passeio, sem coleira.
O tema canino não deixa de ser polêmico por aqui. Folheava uma edição do "China Daily", jornal em inglês, e me deparei com uma coluna que reproduzia o debate sobre as restrições aos donos de cães, sobre a posse responsável e sobre o hábito, cada vez mais comum, de manter um cachorro em casa. Antes, cães eram vistos com mais frequência em cardápios de culinária.
Visitei também o zoo de Pequim. Foi um passeio agradável, com instalações em geral adequadas e com oportunidade de observar animais raros em nossas terras. A área do panda é uma das mais disputadas. Percebi que, nos três anos da minha vida pequinesa, jamais havia visitado o centenário zoológico. Comentei a lacuna com um amigo que ainda vive na capital e ele comentou: "Naquele tempo, não havia espaço na agenda chinesa para os animais". Ainda bem que agora começa a existir.