Folha de S. Paulo


O veterinário da maconha

O veterinário Doug Kramer, da Califórnia, embrenhou-se em uma campanha das mais polêmicas. Ele defende a legalização do uso medicinal da maconha, já permitido em algumas partes dos Estados Unidos, também para os animais de estimação. Em sua experiência, o criador da empresa Vet Guru, voltada ao desenvolvimento de produtos naturais, sustenta que a droga pode ser usada, em certos casos, para aliviar a dor e estimular o apetite.

Kramer enfileira exemplos. Argumenta ter ministrado a erva à sua cadela Nikita, quando ela enfrentava um câncer, e que a qualidade de vida canina teria melhorado, tendo sido aliviadas as dores crônicas do estado terminal. Relata ainda o uso da maconha para estimular o apetite de gatos, vítima corriqueira de diversas doenças felinas.

Em entrevistas, o veterinário se apressa em explicar a forma que julga adequada para colocar o animal em contato com a droga. Ele condena quem pensa em dar baforadas no focinho do bicho. Recomenda, por exemplo, preparar comida em óleo ou manteiga que levem cânhamo.

Ilustração Tiago Elcerdo

A controvérsia promete queimar mais papel. Quando da liberação da venda da maconha para uso medicinal em vários Estados norte-americanos, veterinários alertaram para um aumento de casos de ingestão acidental da erva por animais. Mascotes se aproveitavam de descuidos dos donos e engoliam a droga.

Mas há outro cenário preocupante: cães alimentados com bolos ou guloseimas trazendo maconha em excesso. Há registros de efeitos eliminados em cerca de 24 horas, mas a toxicidade pode levar à morte. A veterinária Stacey Meola, que trabalha no Colorado, nos EUA, relatou ter testemunhado dois óbitos.

A imbecilidade humana tem uma capacidade ímpar de surpreender. Já ouvi relatos de cães que receberam cerveja e entraram em coma alcoólico. Oferecer maconha ou baforar no focinho aumenta a lista de práticas de crueldade contra os animais.


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